segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Post.it: Cada vez mais distante

- Como está o nosso amigo? 
- Cada dia mais distante. 
À velha e eterna questão que leva a vida para o seu final, nunca me tinham respondido assim, com tal serenidade, a quietação de quem aceita a partida ou com tranquilidade por quem parte. 
Um tema que a todos parece assustar de uma ou de outra forma, dito desta maneira, sentido assim, tudo suaviza, pacifica, concilia com a sensação leve de viagem. É certo que sempre foi um caminho, um percurso individual mesmo quando colectivo porque é de todos, um percurso de altos e baixos, de curvas e contracurvas. 
Mas dizerem isto assim, deu-me outra consciência, a plena noção de que não tem de ser necessariamente mau, doloroso, angustiante. Que não temos que ficar vazios dos outros, quando afinal fomos por eles tão preenchidos. 
Como quem agarra uma onda, aprisiona-a na mão fechada, vê-a, sente-a a escoar-se por entre os dedos, não morre, simplesmente fica de nós cada dia mais distante. 
É a transição do que somos, o aqui e ali onde paramos, ficamos, dando, partilhando e depois seguimos viagem. 
Há quem tenha uma meta e a persiga na tentativa de a tocar. Há quem simplesmente prefira o viver, no prazer da viagem sem projectar mais além o objectivo de chegar porque sempre acabamos por chegar a um tempo, a um lugar. O enigma torna-se a grande e por vezes maravilhosa surpresa da passagem por locais, pessoas, a incógnita das vivências que todos nós conhecemos em qualquer momento da vida. 
Partimos? Acredito, ou melhor preciso de acreditar que não, só se nos esquecermos, só se formos esquecidos, só vamos ficando cada vez mais distantes…




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