quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Post.it: Ainda ontem...

Ainda ontem tinha 18 anos, o rosto resplandecente de sorrisos, os cabelos castanhos de seara ao vento. Subia as montanhas em corrida, saltava riachos, subia às arvores mais altas sem medo da queda. O tempo era lento demais para os meus passos e as estradas as únicas decisões difíceis de tomar.
Ainda ontem tinha 18 anos, não tinha cansaço de tudo, as letras não me fugiam dos olhos, os ossos não me doíam no final do dia, os cabelos não se tornavam veios brancos aumentando e conquistando espaço numa luta desigual com os escuros que vão pacificamente aceitando a derrota. Os pensamentos não me magoavam, os sonhos ainda se concretizavam sem se tornarem bolas de sabão explodindo antes mesmo de adquirirem contornos palpáveis.
Ainda ontem tenho 18 anos olhava os rostos conhecidos com expectante angustia por os ver a mudar, a murchar nos sulcos marcantes de cada dia, por olhar para olhos que empalideciam, por lhes notar os sorrisos cada vez mais retraídos, as mãos que já não apertam com a mesma força de esperança que antes lhes conheci.
De repente olhei-me no espelho, espantei-me, esses rostos eram em tudo o meu.
Ainda ontem tinha 18 anos, corria, caia, levantava-me, sorria e seguia, como se nada importasse, com se nada me atingisse, sentia-me heroína e escritora da minha própria história. 
Ainda ontem tinha 18 anos, amava, chorava, conquistava, era feliz, tão feliz e não o sabia. 
Tu, que te estreias agora nos 18 anos, parabéns e peço-te nunca os percas, guarda-os no peito como se fosse (e é) o mais doce tesouro que temos na vida, vive-os com o sentido de eternidade, de lealdade, de vontade, de liberdade para que, daqui a alguns anos os sintas ainda em ti, como felicidade e não com resignada saudade.

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