quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Post.it: Olá...?

- Olá, onde estás?  Lembro-me de nós quando o tempo pára por instantes numa longínqua recordação. A pergunta eleva-se no  pensamento, e o silêncio é a única e dolorosa resposta. Por tudo o que se passou entre nós, porque naquele momento se acreditou que o tempo era infinito. Que tudo podia acabar e recomeçar vezes sem conta. Que tudo estava bem, ou iria ficar, tudo era nosso e o futuro era uma estrada florida à nossa espera.
Porque fazia parte de mim e  porque depois de tudo  se tornou uma ausência? A dada altura adquire-se a noção de que um pouco do que se é, a determinada altura se perdeu algures pelo caminho.
- Olá, onde estás?  Tenho ainda o teu número mas nem vale a pena ligar, de certeza que já não é o mesmo. De certeza que já não somos os mesmos. Há coisas que são de um lugar, que são de um tempo, de um momento e que por mais que tenham sido bonitos, já não voltam. Não podem voltar,  até porque mudámos,  crescemos e a beleza que víamos, que  sentimos naquela altura é tão diferente da que  hoje conseguimos ver e sentir. Perdemos a ingenuidade, trocamo-la pela “maturidade”, repetimos como forma de reconforto. Mas, não sei, não sei se não trocaria toda a aprendizagem, todo o viver, por toda aquela doçura, por toda aquela ternura que nos dá o  acreditar, o sonhar. Por aquele brilho do olhar, por aquele sorriso espontâneo, por toda a esperança, por toda a ilusão, por todas as sensações que nos fervilhavam no coração.
- Olá, onde estás?  Quem sabe feliz, quem  sabe infeliz, será que ainda te lembras de mim, será que tens saudade de nós? Será que também te perdeste de quem eras, será que amadureceste, envelheceste, que as rugas apagaram o teu sorriso que ainda recordo menino, será que o teus olhos ainda são sois e à noite luares, será tens o mesmo forte abraço, será que ainda acreditas e fazes os outros acreditarem que o mundo é um lugar perfeito?
- Olá, onde estou? Será que alguma vez te perguntas?
Estou aqui, aparentemente tão perto, certamente tão longe do que fomos. Lembro-me de ti, lembro-me sobretudo de nós e tenho saudades, infinitas saudades de mim de quando eramos entusiasticamente e candidamente nós.

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