terça-feira, 20 de outubro de 2015

Post.it: O outro

O outro será sempre o outro porque não é eu. E eu sou diferente do outro, por vezes, demasiadas vezes lhes indiferente. O outro, esse que julgo, que me julga. Que se sente melhor, ou até mesmo superior, e não sinto isso eu também? Então critico, sou criticada e nesse jogo de desresponsabilização cresce feroz um ego magoado ganhando nome: Aceitação. Porque no fundo, mesmo que bem lá no fundo, só queremos ser aceites, tal como somos. Nas coisas semelhantes, mas sobretudo nas diferenças. Afinal que culpa temos, dos genes que herdámos, das células que nos definem, da sociedade que nos moldou, do bairro onde crescemos, dos bolsos vazios, dos sapatos rotos, do ar desalinhado. Quem nos olha com o coração de ver e vê a alma pura e límpida que temos?
Adultos, jovens, crianças, vidas escritas a cada passo, por cada sim, por cada não. Então alguém ousa perguntar aos mais jovens o que têm de negativo os adultos. “O seu egoísmo e individualismo, o seu gosto mórbido pelo dinheiro, pensarem que já sabem tudo, a falta de esforço para entenderem os jovens e os seus problemas, a negação quase sistemática ao diálogo”. É a vez de fazer colocar esta mesma questão aos adultos na relação com os mais jovens, não vale a pena referir o que respondem, é uma quase perfeita cópia do que os jovens disseram sobre eles. Estranha esta coincidência de opiniões, ou talvez não.
A grande diferença é que os jovens acusam os adultos de já não sonharem. Enquanto os adultos acusam os jovens de ainda não terem aprendido a sonhar.
Falta fazer a ponte, seja qual for a distância. Falta dar o passo em direcção ao outro e  compreender definitivamente de que para o outro, nós somos é que o somos o outro.
Falta reconhecer o percurso da felicidade no exercício da liberdade individual e colectiva e compreender que “A Liberdade consiste em fazer tudo que não prejudica os outros(Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão).
Porque o outro será sempre o outro, que um dia encontre em si o Eu.
Por fim, falta que uns não percam a capacidade de sonhar e que outros a encontrem muito em breve.


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