terça-feira, 6 de outubro de 2015

Post.it: Déjà vu

Por vezes vem-me à memória uma lembrança, uma vontade de ser outro ser. De tocar a felicidade que sinto conhecer sem a ter vivido. Por vezes há uma nuvem que me lembra um rosto que não conheço. Há uma brisa que chama por um nome que nunca pronunciei. Sonho até um sonho que pressinto não ser meu.
De vez em quando sinto o cheiro de uma flor que nunca toquei em primavera alguma.
É uma lembrança que me vem silenciosa com uma folha que tomba do ramo de uma árvore despida e que na sua quietude me chama. Passo na rua apressada como se o relógio me roubasse as horas, mas eis que algo me detém, um tempo, um momento, a orla de um instante que nem sei se é ou sequer se alguma vez será meu.
É uma lembrança que parece chegar de longe, mas que me toca de perto, como se fosse de ontem, de agora, de um futuro longínquo que já se foi embora. Mas de onde, de quando, minha, de quem?
Será daquele alguém, que passando por mim me faz parar mas não se detém, será daquele olhar cruzado que esmorece calado? Será um eco do bater do seu coração, a nostalgia de um qualquer momento seu, ou apenas uma mensagem que viaja pelo cosmos em busca de si, de mim, de algum de nós e que sem se desvendar nos deixa de novo sós. Pergunto-me uma, mil vezes, quem a envia, para quem a envia que não a recebe?
Por vezes dança-me na memória a volúpia de um pensamento, (quem me dera concretizar esta lembrança órfã de afectos), perdida algures na eternidade finita da vida, alcançar a velha esperança de que um dia me possa  finalmente em alguém (re)encontrar. 
Contudo a memória já me vai atraiçoando, o vento já me rouba o mar suspirante dessa lembrança. E num bater alongado de asas, ela parte para lugar incerto rasgando os laços de esperança com que a prendi ao meu peito. 

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