sexta-feira, 21 de maio de 2021

Post.it: A nossa casa

Uma casa tem cantos e recantos onde se esconde a nossa história. Tem armários onde arrumamos as emoções que adiamos para um dia mais calmo, uma noite mais longa, um momento em que consigamos parar para sentir-mos, para nos sentarmos e olharmos bem cá para dentro. 
Uma casa tem estantes onde alinhamos as nossas recordações mais desalinhados. Tentamos arruma-los por tamanho, mas rapidamente percebemos que cada momento tem a dimensão que lhe damos agora e que a pode perder no depois.
Uma casa tem um teto que nos abriga, que nos protege como que a impossibilitar  que o universo nos caia em cima, confiamos nele como se fosse um amigo que nos dá um abraço forte e seguro impedindo-nos de sucumbir ao medo de um céu aberto. 
Uma casa tem paredes, quando entramos estão silenciosamente à nossa espera como se aguardasse os nossos desabafos sem contar o tempo para que regresse o silêncio. Uma casa tem chão, tem caminho e na sua enganadora finitude, revela-se infinita, podemos percorre-la por horas, dias. 
Só depende de nós escolher a direcção para visitar cada pedaço de nós que vive e fica numa casa. Tem o nosso cheiro, o nosso rosto, tem gargalhadas, ecos dos nossos desesperados silêncios, tem manchas salgadas de cada lágrima derramada. 
E com o passar do tempo, também ela vai revelando rugas de expressão por todas as vivências que partilhámos. 
Uma casa tem, coração, tem alma, tem sangue a correr-lhe nas veias de argamassa, tem cansaço e coragem por entre os tijolos empilhados colados com cimento de mágoa. Uma casa tem calor, tem amor, acalenta-nos, embala-nos, abriga-nos, ampara-nos. Uma casa é família, é amiga, é pai e mãe em simultâneo e avós para os nossos filhos.



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