sábado, 15 de maio de 2021

Post-it: Pandemia e solidão

Há uma pandemia de solidão que se alastra, que confina cada um dentro de si. Quando tudo começou sorrimos, um sorriso que escondia o receio de uma situação desconhecida, mas que confiávamos, fosse breve. 
Acreditávamos na ciência médica, nos políticos, nos virologistas, nos médicos em geral. Acreditávamos em nós, em cada um de nós, que  venceríamos, unidos. Mas com o passar do tempo, sentimos que tudo nos falhou, sobretudo que falhámos nós. 
Tanto confinamento, tanto isolamento, tantas restrições, tantas regras que cumprimos, para nada, é o que começamos a sentir perante os resultados. 
O vírus vence-nos em casa, em cada casa, por milhões a milhares que sobreviveram mas em grande parte com sequelas e correndo o risco constante que lhes bata de novo à porta, que entre e não queira sair. 
Resta-nos a coragem de conquistar cada dia, a esperança de que sairemos vencedores. Resta-nos o sorriso de confiança que esmorece. Tentamos mentir, quem sabe iludirmo-nos, garantindo que ele ainda está lá, escondido por detrás da máscara. Todos nos faltaram, sobretudo, faltamos nós, afastámo-nos dos amigos, dos familiares, dos colegas, dos vizinhos. Acreditámos que estávamos a seguir as regras do distanciamento, mas a verdade é que nos fomos fechando, esquecendo os outros e eles a nós. 
O telefone já pouco toca, as comunicações por zoom vão dando lugar a um silêncio digital. Às vezes ainda mandamos um WhatsApp, mas as mensagens vão diminuindo. Nada é igual ao contacto humano, ao olhar que olha o nosso sem ser através de uma tela. Falta-nos os odores que não percecionávamos mas que as nossas hormonas recebiam e retribuíam. Faz-nos falta o calor daquele abraço.
Faz-nos falta celebrar cada aniversário com um beijo num rosto amigo. Faz-nos falta a presença de todos na festa do Natal, da Páscoa, as férias, o regresso à aldeia, ver os mais velhos, receber os mais novos. Precisamos de encontros, de matar as saudades de conversar a menos de um metro do nosso interlocutor, de sentir-lhe a voz a ressoar como uma caricia dentro dos nossos sentidos. 
Faz-nos falta, socializar, partilhar. Faz-nos falta os outros para nos sentirmos inteiros. Precisamos de nos livrar desta máscara que nos cala, que nos rouba o sorriso, que nos afasta, que nos separa, que nos deixa cada vez mais numa solidão individual de pensamentos, de sentimentos, do passar do tempo sem os outros e cada vez mais e apenas com o silêncio da nossa voz. 
Disse-me uma amiga outro dia “estou a dar em maluca, já dou por mim a falar com o vírus em acesas discussões”.” Respondi-lhe, “espero que ele te ouça e se vá embora das nossas vidas!”



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