sábado, 8 de maio de 2021

Post.it: Companheiros para a vida

A Joana nasceu, era a grande notícia da família, dos amigos, dos colegas, até dos vizinhos do prédio. Todos lhe queriam dar as boas vindas ao mundo, todos a queriam visitar e abraçar, todos a queriam presentear com as coisas mais belas do universo. A avó entrou de mansinho, com receio de acordar a pequena Joana que dormia sorrindo acomodada no berço.
Olhou e redor e viu espalhadas pelo quarto inúmeras prendas, com cuidado colocou junto delas a sua, uns lençóis com malmequeres que fizera para aconchegar a neta. Comparando as prendas, entristeceu-se com a humildade da sua, não sabendo ela o quanto a Joaninha iria gostar daquela oferta.
Dormiu sobre eles muitas noites, aconchegada neles teve inúmeros sonhos e quem sabe quantas aventuras. Mas, entretanto cresceu e o berço já não tinha espaço suficiente para si,  passou a dormir numa nova cama. Com tristeza a mãe constatou que os lençóis oferecidos pela avó,  não tinham tamanho suficiente para a nova cama, pensou em arruma-los num armário mas a criança era tão apegada a eles que resolveu pedir à avó da menina que um deles transforma-se numa fronha, quanto ao  outro… Logo a Joaninha o agarrou e nunca mais o largou, chamava-lhe o seu nhô, nhô e recusando os ursos de pelúcia preferia adormecer agarrada ao seu lençol de malmequeres.
O tempo passava e a Joana chegou à idade de ir para a escola, a mãe pensou que seria a oportunidade de separa-la do pequeno lençol, mas a Joana recusou-se a deixá-lo, pegou nele e pediu à avó que era costureira para o tornar numa saia e assim lá foi feliz e radiante exibindo a sua saia de malmequeres no primeiro dia de aulas e em muitos outros que se seguiram.
Quando chegou ao liceu a saia já não lhe servia, mas mais uma vez recusou-se a abandonar aos seus malmequeres de pano e voltou a pedir à avó que lhe fizesse um lenço para usar  no pescoço e assim fez todo o liceu sempre de lenço dançando ao vento.
Entrou na faculdade e as modas eram outras, Joana olhou para o lenço de malmequeres, sorriu e decidiu-se a manter firme aquela amizade, dobrou-o com cuidado e tornou-o uma fita para o cabelo. Durante todo o curso nunca ninguém a viu sem os cabelos presos por coloridos malmequeres.
O tempo passava,  a fita do cabelo ia ficando cada vez mais poida, já se viam alguns buracos no velho pano. Devias mete-la numa gaveta, aconselhava a mãe, mas a Joana não se conseguia separar da
queles malmequeres.
Pediu à avó que a tornasse numa pulseira para usar no dia do seu casamento e assim juntamente com a ramo de noiva repleto de rosas, os malmequeres continuaram a resplandecer.
Quando as gémeas nasceram, pediu à avó que com a sua grande habilidade fizesse com o velho pano de malmequeres, 3 medalhas, uma para a Joana e as restantes 2 para cada uma das gémeas. A avó com um doce sorriso recebeu o poido pano e meteu mãos à obra.
Dias depois apareceu na casa da neta. Abriu uma pequena caixa e lá estavam as 3 medalhas com os malmequeres do velhinho lençol. As gémeas não deram grande atenção para a pequena prenda,  mas quando a bisavó ofereceu  a cada uma delas um conjunto de lençóis floridos, estenderam para eles os abraços e abraçaram-nos como se fossem já grandes amigos, companheiros para o resto das suas vidas.


 

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