sábado, 16 de janeiro de 2021

Post.it: Isolamento profilático

Estive em isolamento profilático porque uma colega testou positivo, resumindo quase tudo correu mal mas acabou bem... 
Basta-vos saber isto ou querem conhecer as aventuras e desventuras desses 14 dias? A data foi um tiro certeiro nos meus planos que já de si eram condicionados. Pensei que iria fazer a Passagem de Ano em casa, com a minha mãe e o cão em frente ao televisor, neste momento a única porta para o exterior, mas quando me telefonaram do emprego na tarde do dia 31/12/2020, tudo mudou. Telefonei de imediato para a Saúde24 que me atenderam em poucos minutos de espera. Dei todas as informações e ouvi uma infinita lista de perguntas a uma velocidade de quem repete tudo isso mil vezes ao dia, no mínimo. Depois enclausurei-me voluntariamente no quarto e comecei a organizar-me, para esse pequeno espaço levei uma exígua dispensa de bens alimentares, fruta, bolachas, café e sumos, além dos utensílios necessários, prato, caneca e talheres, sem esquecer a máquina do café, claro! 
Assim passei a meia-noite, assim entrei em 2021! Sem festejos, sem champanhe, sem passas, sem beijos e abraços. Depois começou a minha nova rotina, a minha mãe colocava um banco em frente à porta do quarto, afastava-se e de seguida eu colocava o tabuleiro com o prato, minutos depois retirava-o já com o almoço dentro dele. Isto é, se concilia-se-mos bem o pôr da comida e o retirar do tabuleiro, porque no entretanto, o meu cão podia surripiar habilmente o hambúrguer, o bife ou a perna de frango, consoante o dia, deixando-me generosamente os legumes ou o arroz. Estes foram os momentos hilariantes. 
Os emotivos, era falar com a minha mãe só através do telemóvel ou ainda ver o meu cãozinho ao longe e não poder fazer-lhe festas, ouvia-o a raspar na porta, a pedir que o deixasse entrar para brincarmos juntos. 
Poucos dias depois comecei com sintomas, febre, dor de cabeça e tosse, seria covid-19? Aí é que as coisas se complicaram, a solidão, a dúvida, o receio de estar infetada e poder contagiar a minha mãe apesar de todos os cuidados e distanciamentos. Alertei a Saúde24 através de email, sem resposta, ninguém me telefonou do SNS, insisti, telefonei para a Saúde24 ao fim de 40 minutos de espera atenderam, simpáticos, mas simpatia não me ajudou em nada, disseram que iam mandar uma sms para ir fazer o teste à Covid-19, essa sms nunca chegou. Enviei email para o Centro de Saúde, nada me disseram. 
Ao fim de 6 dias e alguma insistência, mais 40 minutos de espera para ser atendida na Saúde24 onde me perguntaram se terei dado mal o meu contacto telefónico e relatei-lhes ironicamente que a sms a informar-me sobre a possibilidade de votar à distância chegou para o nº correto, mas a que me permitia fazer um teste de despistagem nunca chegou. Depois de escrever novo email para o Centro de Saúde, por fim ligaram-me, uma médica simpática, mas somente isso, disse que ia mandar uma sms para ir fazer o teste, mas mais uma vez a mensagem não chegou, disse para eu lhe mandar um email dentro de 30 minutos se a sms não chegasse, segui a sua indicação, mandei um  passados 30 minutos, e mais um passada 1 hora, e outro passadas 3 horas, todos sem resposta. Já irritada com a situação avisei que ia pessoalmente ao Centro de Saúde buscar a credencial. 
Saí do isolamento, meti-me no carro e lá fui,  no Centro de Saúde chamaram-me criminosa, que devia ser presa, a médica por fim apareceu e disse-me que tinha estado toda a manhã em consulta, esquecera-se que me tinha dito para enviar um email e nunca foi verificar o correio electrónico. Afinal quem era a criminosa? De papel na mão fui marcar o teste, nada feito, tinha de ser pelo telefone. Telefonei, dei os dados e marquei. No dia seguinte fui fazer o teste, disseram o meu nome mas o apelido estava errado, a morada e data de nascimento não coincidiam, mas o teste foi feito ao fim de 10 dias. Às 5 da manhã veio a notícia, tinha dado negativo. Seria verdade? As dúvidas mantinham-se, os sintomas mantinham-se, a solidão mantinha-se.
hoje,  lá no fundo, bem no fundo, num lugar onde arrumamos as coisas sem solução, ainda há perguntas por responder, terei estado em algum momento positiva? E uma certeza magoada, podia ter corrido melhor se todos além da simpatia tivessem mais...
15 dias depois fui trabalhar. 15 dias senti que já estava em 2021, uma entrada sem festejos, sem planos, sem desejos, não houve tempo para isso. Sai do isolamento e entrei directamente no confinamento.
“Enquanto o sol nos brilhar mesmo nos dias de chuva, colheremos com o olhar cada flor da Primavera”.


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