sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Post.it: Sombras

Escondo-me nas sombras, quem sabe não me vejam, quem sabe me esqueçam. Quem sabe me deixem viver e ser na vida quem sou. 
E o que sou é esta sombra, crepúsculo dormente do dia que parte, que acorda e cresce na mesma penumbra indefinida das horas entorpecidas da vida. 
Basta-me ser isso, pouco ou nada mais que uma claridade atenuada pela interposição de um corpo entre algo e coisa nenhuma. 
Similar a uma silhueta, a um corpo desenhado na vaguidade da superfície entreposta entre ela e o sol que é a sua fonte de luz. 
De tanto me esconder na sombra torno-me ela, segredo, mistério, leve noção na linha do horizonte sob a proteção da penumbra de eclipse. Esta sombra conforta-me, antes era uma espécie de mágoa deambulante. 
Que bom é este conciliador amadurecer, não gosto da expressão envelhecer, parece indicar que é um perder, é em certas situações mas noutras é um ganho. 
Lembro-me que quando desejava a luz e a dor que me causava quando o tanto sol existente apenas me cedia um pouco da sua claridade confinando-me a um certo e profundo anonimato Tive uma outra fase em que ambicionava ser farol salvador das marés que embatem contra os cais. Com palavras de esperança, queria afastar as nuvens que geravam intensos nevoeiros. 
Hoje o nevoeiro aconchega-me, sinto o silêncio do seu abraço e deixo-me guiar por ele e encontro um novo e suave caminho. 
E apesar de apreciar com alegria a suavidade envolvente de viver na sombra, sei que tive coragem para nunca deixar de lutar por um lugar ao sol, porque me neguei a ser uma sombra de infelicidade com medo de ser efemeramente feliz.


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