segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Post.it: O meu Pai Natal


Quando  era  criança   tinha  festas  de  Natal muito  felizes, costumava  ir para a quinta dos meus  primos, todos  juntos  eramos  mais  de 30, a maior parte crianças. Lembro-me que na véspera  os  homens  juntavam-se  no salão a jogar   às   cartas,  as  mulheres  em  animada conversa   ficavam   na   cozinha   a  fazer   as tradicionais   filhoses,   enquanto  as  crianças reuniam-se no quarto dos brinquedos. 
Perto da meia-noite toda a família reunia-se no salão à volta da lareira. De repente irrompia pela  porta  uma  figura  típica,  o Pai Natal, era alto, forte, com  barbas brancas e vestia de vermelho, falava alto, chamava as crianças e nós corríamos para ele sem receio. “Pai Natal, Pai  Natal e  ele sentava-se  num cadeirão,  um  de  cada  vez  sentávamo-nos  no seu colo. 
Ficávamos surpreendidos por ele saber o nome de cada um de nós. Dava-nos prendas que nem  abríamos  de  tão  entusiasmados  com  a  presença  do Pai Natal e ele, ria-se, comia bolachas e bebia o leite morno. 
Perguntava se nos tínhamos portado bem e depois de deixar um beijo na bochecha de cada um de nós, despedia-se porque ainda tinha muitos presentes para entregar. 
Antes de sair, num ultimo olhar, num último momento de magia, dizia-nos, “crianças, não se esqueçam de ser bondosos uns com os outros”. 
Já  tinha 10 anos  quando descobri  que o   Pai Natal era o meu avô. Era uma figura peculiar, envolta em algum mistério, nunca casou, teve as suas namoradas, claro. Teve filhos, netos e bisnetos.  Viveu sempre  sozinho, sempre deambulante, mas na noite de Natal nunca faltava, desaparecia  na  manhã  seguinte  antes  mesmo  de nós  acordarmos. Perdia-se no meio do nevoeiro, imaginava eu,  nunca se despedia,  mas deixava mais uma recordação, uma quase tradição,  para  além  de se vestir  de Pai Natal, organizava um jogo de cartas que era jogado com dinheiro, no final ele ganhava sempre e antes de partir deixava o dinheiro ganho, repartido por todas as crianças da família. 
O  meu  avô  nunca  soube  ler,  escrever  nem  conhecia  os números, era jardineiro porque gostava de flores. Falava pouco mas era muito observador. Se soubesse que alguém estava doente era  o primeiro a aparecer.  Chegava  de  manhã à porta do hospital com o seu farnel e esperava  até  serem  horas  da  visita. Quando  achou que  já  não  conseguia cuidar de si próprio, escolheu um lar e deixou-se lá ficar até chegar a sua hora. 
O  meu  avô  já  partiu  há  alguns  anos, mas  recordo-o, particularmente no Natal, não pelas prendas,  um  pouco  pelo  carinhoso  Pai  Natal,  mas  sobretudo  pela  sua  despedida  que continuo a repetir aos mais pequenos “sejam bondosos uns com os outros”.


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