quinta-feira, 7 de maio de 2020

Post.it: Girassós e outros sóis


 A primavera chegou e quase nem demos pela sua entrada. Os jardins encheram-se de coloridas flores, mas nós continuámos a ver a realidade em tons cinzentos. O sol brilhou e nós nem espreitámos pela janela.
A Páscoa foi quase apenas uma data no calendário, sem darmos amêndoas em forma de abraços, sem recebermos ovos de chocolate em forma de beijos. Quase que nem relembrámos a Paixão de Cristo. Na nossa vontade de chegar a todos, de tocar todos os nossos familiares e amigos, telefonámos, enviamos mensagens, desejámos a todos uma Boa Páscoa, menos “doce”, mas presente para compensar a ausência. Compensou? Claro que não! Mas recuperaremos cada momento, prometemos aos outros e a nós.
O 25 de Abril não foi um dia de liberdade e as canções de lutas foram entoadas num grito de desespero e de esperança. Já não se temia as guerras partidárias, os condicionamentos políticos, mas a luta pela vida contra um inimigo viral.
O 1 de Maio passou em marchas silenciosas nas ruas desertas. As lutas pelos direitos dos trabalhadores foram trocadas pela homenagem a quem trabalha para arrancar da pandemia vidas em sofrimento e as trazer de volta à sobrevivência e aos seus lares.
Este vírus que retirou vidas, que separou famílias, que nos isolou em ilhas desertas de afectos, mas cheias, por vezes muito de medos. Revelou a nossa fragilidade, demonstrou a nossa coragem.
Não estamos vencidos, nem convencidos de qualquer derrota. Os dias são de luta, cada um por si, para vencermos todos.
O ficar em casa vai pouco a pouco transformando-se num voltar à rua. Abrimos a porta, espreitamos receosos, olhamos cada pessoa com uma estranha familiaridade, estamos todos no mesmo caminho, com um único objectivo, ficar saudável. Cuidamos da nossa saúde e da dos nossos o que significa igualmente da vossa e dos vossos.
A inconsistência das palavras, tornou-se a consistência dos actos e ideais, nunca houve um isolamento que nos unisse tanto.
O futuro pertence a nós e não ao Covid; temos esperança, tentamos ter confiança e acreditar, é isso que nos dá força para sair para a rua, entrar nos transportes públicos, ir trabalhar e no final do dia regressar a casa. 
Vamos ficar bem…

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