sexta-feira, 15 de maio de 2020

Post.it: Depois do confinamento


A aventura de regressar ao trabalho, de sair de casa, de viajar nos transportes públicos, de encontrar rostos cobertos com máscara.
Cada dia tornou-se uma descoberta do melhor e do pior. Digamos que uma larga maioria de pessoas agia com respeito pelas novas regras do uso de máscara, uma maioria mais pequena, pelo cumprimento do distanciamento. Mas diga-se em boa verdade que por mais que tentássemos o distanciamento nos transportes públicos revelou-se no avançar dos dias desta semana, uma cada vez maior impossibilidade. Na carris e no metro, a coisa ainda corria bem nos primeiros dias mas para o final da semana começou a instalar-se a confusão e a involuntária aproximação, com estes transportes cada vez mais apinhados de gente. Mas nota negativa desde a primeira hora recebe a Rodoviária de Lisboa que anunciava regras de só transportar 2/3 dos passageiros mas a verdade é que andava superlotada.
Mas falemos das minorias, felizmente poucas mas merecedoras de destaque e quem sabe de um estudo psicológico ou sociológico. Todos os dias os encontrava, todos os dias tentava falar com eles, aprimorando o discurso para não ferir susceptibilidades. Desde o jovem que no autocarro coloca a máscara para baixo do queixo para mascar pastilha elástica e fazer balões, realmente é impossível fazer balões com máscara, alguém que invente uma máscara para estas situações! Mas do mal o menos, pedi ao jovem que colocasse a máscara e ele acedeu.
Há pessoas que entram nos transportes com a máscara na mão em vez a ter colocada no rosto, deve ser para a mostrar ao motorista, como se fosse a validação de titulo de transporte. Depois alguém diz a outro alguém que coloque a máscara e a resposta não se faz esperar – Em mim ninguém manda! Passando pela senhora ao lado de quem me sentei e que vinha a falar ao telemóvel, mexia e remexia na máscara, tentei perceber o que se passava e a constatei que a senhora tentava a todo o custo baixar a máscara para melhor falar ao telemóvel, acabou por a colocar por baixo do queixo. Fiz-lhe um gesto indicando para subir a máscara, deitou-me um olhar fulminante. Pedi-lhe com bons modos que a colocasse, deitou-me mais um olhar matador. Por fim disse-lhe, “Que não se preocupe com a saúde dos outros, é egoísmo, mas entende-se, mas que não se preocupe com a sua saúde é suicídio”, levantei-me e fui para outro lugar.
No dia seguinte mais uma aventura e à minha frente sentou-se um jovem sem máscara. Lá tentei falar com ele “Jovem a máscara?” Não me respondeu, mas não foi por falta de educação, tinha os ouvidos ocupados com os fones e ouvia-se em fundo a pseudomúsica que deles saia. Quando olhou para mim, aproveitei a oportunidade e gesticulei (a máscara?), sorriu-me e disse “ – Esqueci-me dela em casa” e mergulhou a boca e o nariz para dentro do blusão enquanto o olhar ficava novamente preso ao telemóvel.
Mais um dia mais uma aventura, desta vez sentei-me em frente a um homem, quando levantei o olhar constatei que ele estava sem máscara colocada, lá pendia ela como um brinco de pechisbeque. Sempre persistente na minha missão de salvação/sobrevivência, disse ao homem, “- coloque a máscara se faz favor”. Sorriu-me e nada fez. Insisti, “- É obrigatório podem passar-lhe uma multa” com o mesmo sorriso de ironia, respondeu “- Sou rico, posso pagar”. Sem me abalar com o discurso, tentei de novo, “-Se não se preocupa com a saúde dos outros , pelo menos pense na sua!”, o sorriso foi substituído por um olhar de indiferença, “- Estou protegido, todas as pessoas têm máscara”. Desisti, que fazer para mudar e responsabilidade de cada um?
Já agora, onde pára a polícia? Essa que aparece nos noticiários, mostrando que cumpre e faz cumprir as normas? Pois, é isso mesmo, é aí que estão, em frente às câmaras da televisão, quando esta aparece para fazer uma reportagem, depois ninguém os vê. Compreende-se, estão a manter o distanciamento de (quilómetros).
Perante isto só posso pensar que se nos safarmos do ataque do Covid19 foi apenas por sorte. Resta-me desejar que a sorte nos seja sempre favorável e ter a esperança que apesar da falta dos comportamentos descurados de alguns prevaleça o respeito e cuidado de muitos.


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