sexta-feira, 21 de junho de 2019

Post.it: A vizinha Eugénia

Vou falar-vos da Eugénia, uma vizinha da minha rua, uma rua pequena, quase todas as pessoas se conhecem e sabem as histórias de vida umas das outras, não por coscuvilhice mas por partilha, por solidariedade e em muitos casos, por amizade.
Conhecia a Eugénia, mulher sólida, robusta, de gargalhada espontânea. Era a alegria em pessoa, casada de fresco, um projecto de vida bem delineado, uma filha recém-nascida. Eugénia era o rosto da felicidade.
Mas sem aviso prévio tudo se desmoronou, uma doença invadiu-a silenciosamente. Amputaram-lhe uma perna,  perdeu a gargalhada, perdeu a solidez, perdeu a vontade. O marido que lhe tinha jurado amá-la na saúde e na doença partira levando consigo a filha que ainda mal aprendera a reconhecer o rosto da mãe.
O tribunal decidira que ela não tinha condições para criar um criança, já que não tinha  emprego. Nunca trabalhara, dedicara-se ao lar, ao marido e ao papel de mãe. Eugénia repetia  cabisbaixa num fio de voz, “amputaram-me a vida”.
Reencontrei-a, passados muitos anos, foi um encontro feliz, daqueles que nos faz sentir a alma rejubilante, Eugénia voltou a ser uma mulher sólida e de gargalhada presente, sorri, chora e ri emocionada, “vou ser avó” conta com voz musical. Encontrou o abraço da filha, agora já mulher.
E mais, refere com um misto de orgulho e de ternura, encontrou o amor, no carinho de alguém que promete e cumpre amá-la na saúde e na doença. Que lhe enaltece cada vitória, cada obstáculo ultrapassado. 
Eugénia uma mulher como tantas outras, que lhes “amputam a felicidade” mas que têm a coragem de construir outras, muitas felicidades.


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