sexta-feira, 26 de abril de 2019

Post.it: Um like

“Um dia fiquei sem computador e sem telemóvel, morri digitalmente”. Fala-se cada vez mais em robots, em inteligência artificial, em máquinas, em coisas que nos são próximas, mas exteriores a nós, ou, talvez não.
Agarrados, viciados, dependentes das máquinas tornamo-nos cada vez mais seus semelhantes. “Será que as máquinas se parecem connosco ou somos nós que nos parecemos com elas?” Falamos mais com elas e através delas do que com o vizinho do lado. Afinal, mal levantamos os olhos do nosso telemóvel para olhar em redor, só o fazemos para ver se é o nosso autocarro que chega. Chocamos com as pessoas mas em vez de lhes pedirmos desculpa, preocupamo-nos se o nosso aparelho móvel ficou bem, se perdemos a mensagem ou a imagem que estávamos a ver, se fomos vencidos no jogo que nos consumia a atenção e o tempo.
Sentimo-nos os maiores, os melhores, porque estamos ligados ao mundo, porque estamos dentro dessa rede universal, fazemos parte dela. Sem sabermos, estamos verdadeiramente presos a ela, tornamo-nos ela, deixamos que ela nos invada a privacidade, a intimidade, que nos conheça da medula ao tutano, não há segredos entre nós. Onde estamos, onde vamos, onde fomos, sabem tudo, contamos-lhe tudo. Mas é o que se faz com os amigos, não é? Portanto, não há nada de errado nisso!
Até os sentimentos mudam, acabaram as grandes conversas, aquele ombro amigo, aquele abraço que nos amparava e reconfortava. Aquelas palavras que nos iam afagando o ego, curando as feridas, embalando os sentidos, aprendemos a dar pouco de nós seres sensíveis e emocionais, e habituamo-nos a receber menos ainda. Não importa a qualidade do diálogo, o importante é a quantidade de visualizações. 
Agora recebemos um Like e isso, basta-nos (?).

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