sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Post.it: Cartas de amor, são ridículas

Escrevo-te, parece tão fora de moda, mas que fazer quando todos os outros meios por modernos que sejam não são tão claros, íntimos, sensíveis ao que te quero dizer.
Porque não falar contigo directamente, olhar-te nos olhos e revelar-te o que me vai no coração? Não! Que susto, só de pensar apetece-me fugir, esconder-me num recanto escuro e profundo, onde não me possas encontrar. E no entanto quero tanto estar perto de ti, ser clara, luminosa, sem pieguices, como tu costumas dizer “chega de pieguices”, tento mas de repente todas as palavras mesmo aquelas que penso, repenso, analiso ao pormenor e que não me parecem lamechas, quando as ouço a saírem-me da boca, têm esse tom que não queres ouvir, calo-me, e escrevo, no desespero de conseguir acompanhar o pensamento, o sentimento que me fazes sentir. Tão feliz, tão miseravelmente infeliz…
Porque para mim é tudo, és a minha vida, os meus dias, horas, sonhos, pensamentos, ausências, momentos, és tudo, tudo em mim.
Morro de ciúmes, não, ciúmes não, é demasiado forte, dramático, vais rir-te, vais quem sabe, fugir de mim, dos meus medos, das minhas inseguranças.
Tenho inveja, sim, é isso, tenho inveja do ar que respiras e que te preenche os pulmões, que te afaga os alvéolos, que te faz ruborizar o rosto. Tenho inveja desse frio que te entra pelas narinas e se distribui por caminhos traçados da tua anatomia. Tenho inveja, sim, confesso envergonhada, mas sim confesso. Porque na minha fantasia, patética, dirás, queria ser o sabonete que todas as manhãs te navega o corpo, que conhece cada recanto da tua pele, que inala o teu odor, que conhece o teu calor.
Escrevo-te, disparates, bem sei, que queres sou ainda menina, aprendiz nas artes do amor, anda faço esboços mal traçados enquanto tu já tens na tua vida obras de arte que exibes com orgulho de macho conquistador, não sabes, ou melhor, não queres saber da dor que me causas, quando me olhas como me dissesses, “pobre criança, vê lá se cresces” e eu tento “crescer” aliás tenho crescido, deito-me no sofá empanturro-me de bolachas e chocolates que me alimentam o ego magoado.
Resta-me esta carta, que escrevo com medo de escrever. Com receio de me revelar. Com medo de que ainda não tenha “crescido” o suficiente para ti, que não chegue a ser  amada como já amaste outras. Vou dar-te a carta e pedir em silêncio, “lê-me, lê-me de imediato, agora, não esperes, não me faças esperar! Não, não leias! Rasga a carta, rasga-me o peito, os sonhos. Esquece que te escrevi, esquece que gostei de ti, esquece que existo. Ou melhor que não existo para ti, que me vês sem ver, que me ouves sem perceberes as palavras que te digo por entre aquelas que escutas sem entender nelas uma só silaba da minha vontade”. 
Escrevo, continuo a escrever, hoje e talvez para sempre, agora, com uma estranha alegria. Agora com uma doce felicidade, decidi que não te vou amar nunca mais! Não  vou pelo menos dizer-te. Decidi, aliás, que não te vou dar esta carta, porque é demasiado ridícula, não é? Não, não respondas. Prefiro saber que sim mas, acreditar que não.

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