segunda-feira, 20 de junho de 2016

Post.it: Os jacarandás floriram

Já floriram os jacarandás, era sempre nesta época, perto do seu aniversário. Surgiam como uma prenda, como um sorriso florido de quem vem para uma festa e em festa porque o festejado é ele próprio essa alegria, oferecida, partilhada.
“Já floriram os jacarandás!” Repetia todos os anos como se fosse uma bênção da natureza, uma dádiva da vida. Eram o cumprimento de um ciclo, que de alguma forma nos modela a forma de sentir em cada estação do ano. A sua floração, anuncia o fim da primavera, o início dos dias longos e quentes de verão.
O ano passado os jacarandás floriram, errantes na nossa dor da sua partida, pensámos, é a última vez que os jacarandás vão florir. Contudo, passado um ano, a primavera desabrochou um jardim de flores sobre a paisagem, as árvores vestiram-se de verde, as andorinhas cantaram e dançaram a sua peculiar melodia, mas os jacarandás permaneciam despidos de cor.
Sim, era verdade, com ela partiu também a última flor do jacarandá da rua onde morava, das ruas onde passava, de todas as outras por onde passamos nós, mergulhados em pensamentos de solidão, em sentimentos de saudade. Até que uma flor me cai aos pés, reconheço-a de imediato, uma flor de jacarandá, murmuro surpreendida. Caiu-me a meus pés, como se me chamasse, como se quisesse ser olhada, contemplada, recebida e eu, confusa, atordoada com esta repentina chegada, olho-a por entre lágrimas contidas de um ano de ausência, de uma amiga, mas também de uma flor que ela apreciava, e que passou a ser um laço estreito de lembrança.
Mesmo depois da sua repentina partida os jacarandás continuaram a florir, recebo esta “prenda” da natureza com alguma mágoa, por estranho egoísmo, queria que também os jacarandás sentissem a sua falta e não mais florissem. 
Mas, floriram, ainda bem que floriram, porque isso significa renovação e nos faz recordar essa amiga e desejar assim que as jacarandás floresçam todos os anos para dar a cada flor o seu nome e à nossa saudade uma presença constante sempre que o olharmos florido vendo nele eternizado o seu sorriso e a sua voz quando dizia “olhem, os jacarandás já floriram!”.

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