terça-feira, 3 de maio de 2016

Post.it: Navegando

Somos um mar ondulante de emoções. Temos rios a correr-nos nas veias cansadas de nos navegar.  Contemos um lago onde os pensamentos vêm por vezes descansar. Mas de vez em quando há um cais que nos abriga das eternas viagens em ondas desconhecidas de sol e de paixão.
Afinal, vivemos em busca de nós, em busca de um chão, terra firme onde repousar a vida tão rapidamente vivida. Em itinerários de velozes alterações, metamorfoses do ser, do crescer, do amadurecer. E isso acontece-nos mesmo quando julgamos que estamos parados em algum porto de abrigo, tempo breve de tranquilidade, porque a qualquer inesperado momento somos atirados para o meio do oceano, onde uma tempestade nos impele a prosseguir por entre vagas que nos levam aos de cumes e aos baixios, afogando-nos e erguendo-nos como se fossemos uma jangada de pedra em súbito desespero por um farol que nos ilumine a escuridão de cada dia.
Sonhamos com macias dunas onde pousar a cabeça, ansiamos por uma brisa que nos leve a magoada memória desse mar, desse sal doendo no corpo.
 Enquanto o horizonte se estende para lá do nosso querer, dizendo que é longo o caminho, num convite, num desafio, enquanto cada braço estendido se depara com o limite de uma margem, que não sei se nos abraça, não sei se nos oprime.
Por vezes visualizamos pontes, quase parece fácil atravessa-las quando acreditamos que do outro lado há uma chegada festejada, mas é difícil encontrar o passo quando nos habituámos a mergulhar sem vir à superfície. 
 Quando nos esquecemos de respirar e morre-nos nos alvéolos pulmonares o oxigénio da última esperança. Quando na crista da onda, ela não é celebrante mas desenraizante da fé, do alento desse lugar para onde queremos ir. Talvez, porque esse lugar na realidade nos seja apenas uma ilha de fantasia, e entre nós e os oceanos somente exista o reflexo silencioso das noturnas estrelas.

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