segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Post.ti: E depois do Natal?

E depois do Natal? Cabe a cada um cuidar da “prenda” que recebeu. Esse abraço quente, essa palavra amiga, esse sorriso franco, esse olhar que nos olha nos olhos. “Prendas” que esperámos o ano inteiro, que tardaram, dizem uns; que chegaram na hora certa, dizem os que as sabem receber. Porque até para receber é preciso saber. Receber sem criticar, sem analisar, sem esperar mais.
Porque receber é também dar, dar o agradecimento dessa chegada, dessa lembrança, dessa partilha. Lembro-me tantas vezes da minha avó “adoptiva”, das suas sábias e generosas palavras “tudo o que é recebido com gratidão é também dado com o coração”. 
Noutros tempos, quando era miúda, ouvia esta frase e não a entendia completamente, soava-me a ternura e por isso a acalentava no pensamento. Foi preciso crescer para não só a perceber, mas também a sentir. Por vezes temos de “crescer”, para as coisas mais simples nos começarem a fazer sentido dentro do peito.  
Coisas simples como o Natal, não a data, a azáfama das compras, a mesa recheada, as luzes a piscar. Porque se o Natal fosse apenas isso, o depois era triste, doloroso, a expectativa áurea da chegada o desalento da partida, os presentes transformados num monte de papeis rasgados,  a mesa replecta de pratos meio vazios, as luzes ainda a piscar em cores solitárias. 
Felizmente, o Natal é mais, muito mais do que isso. É a mensagem que nos fica a dançar nos sentidos, que nos faz prometer coisas que nunca conseguimos cumprir na sua totalidade, mas que desejamos tanto manter. 
O calor daquele abraço que nunca vamos esquecer, aquela palavra que fez todo o sentido no nosso rumo, aquele sorriso que nos prolongou a esperança mesmo que se torne um dia apenas lembrança, e aquele olhar, sim aquele olhar que nos diz tanto sem usar as palavras cansadas de serem ditas e por vezes esquecidas de serem verdadeiramente vividas. 
Não, o Natal não é fingimento, o Natal não é ficção, obrigação. Natal é  como estamos, por vezes com lágrimas, com solidão, com doença, com uma certa escuridão, mas Natal é também o que somos, a capacidade de transformar a dor em ternura, a solidão em carinho, a doença em luta e esperança na vitória e encontrar  algures em nós a luz do caminho. 
E depois do Natal? Volta a questão. Natal não deve ser um final, mas um começo. Abrimos as “prendas”, está na hora de as apreciar, de lhes dar uso. Vamos desembrulhar a esperança, desenvolver a confiança,  conservar a expectativa, aumentar o ânimo, guardar o alento, ampliar a fé, estimular a coragem,   sonhar mesmo quando a realidade nos acordar e acreditar que o Natal não tem um antes e um depois mas um contínuo presente.


Sem comentários:

Enviar um comentário