terça-feira, 7 de julho de 2015

Post.it: Aquela lágrima

O que se passa no interior de uma lágrima? Que ondas, que vendavais, que portos sem-abrigo, que cais sem esperança, que remoinhos de dor. Que saudades, que lembranças. De que caminhos vem cansada, de que sonhos vem abandonada.
Será uma gota de orvalho, caída das noites claras? Será o fechar de olhos do luar por saudades do luminoso sol? Será geada que estremece o inverno? Será a falta daquele quente e terno abraço que a copa das árvores aos ninhos se esqueceu de dar?
É tudo isso, é muito mais, é um retalho do que somos que ao morrer cai,  é uma  lágrima de vida que anseia por ser vivida.
E na transparência que nos ofusca, esconde o que lhe vai na alma, o que lhe vai no corpo. Na sua densidade, na sua imensidade, e no entanto, parece vazia. É o que  pensam os que lhe dedicam apenas um ligeiro observar. Mas não, olhem  bem, aproximem-se, atrevam-se a tocar-lhe com o olhar, escutem-na,  ela tem tanto para contar.  Mas permanece muda, num deslizar quase secreto, de quem nasceu e viveu, apenas e sempre para ser discreta.
 Há água, apenas água, na sua composição, dizem outros sem grande pesar, esses que não lhe auscultam o coração, esses que nunca lhe estendem a mão, que a deixam sem compaixão, deslizar e cair desamparada no chão.
Pessoas, talvez, também com as suas lágrimas. Pessoas que nunca se sentaram ao seu lado, que não a atenderam, que nem sequer por ela pararam. E ela segue o seu destino, de serenidade,  de missão cumprida. Um destino que talvez tenha sido de amar, cuidar, entregar-se a esse querer e acordar, algures, só no amanhecer…


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