segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Post.it: Quem vive de perto, escreve de dentro

De dentro de nós, de onde uma estranha e terna voz nos embala os sentidos. Desse fundo, o nosso mundo por vezes tão singularmente profundo que nos anda quase sempre á flor da pele. Toca e é tocado, abraça e é braçado. E desse toque quase subtil germinam em nós primaveras no peito, o mais quente e doce leito. Mas que em outros momentos fazem  aflorar vendavais na mudança das marés que trazem ao convés da alma, vagas ondulantes de mágoa e de esperança. Sentimentos enevoados pelo torpor da crescente e longínqua lembrança que desmaia suave na quentura das praias já quase desertas ao entardecer.
Enquanto as palavras que se escrevem no fino areal desfazem-se nos afagos do mar. Nessas areias que num remoto passado já foram rocha, tão forte, tão erguida aos céus, tão frágil, tão desmoronada aos encantos do vento quando ele lhe soprou promessas sem nunca as cumprir. “Não importa”, murmura o eco na orla do horizonte, porque acreditar é ser feliz. Se não acontecer, se não se realizar, fica a alegria do ter sonhado, do ter sentido. E no intervalo da chuva há um pouco de nós que não é molhado, que não é magoado e esse pouco, sendo pouco, sabe a tanto, quando tanto se tem de capacidade para o sentir.
Afinal basta estar por dentro, afinal basta estar perto de quem escreveu, de quem viveu, de quem leu, para o sentir, para o guardar. Esse efémero momento quando o sol se ergue faminto de beijos e a lua sonolenta de tanta noite, parte levando um sorriso matreiro no dia cresce. 
A vida, essa continua e, o amor, quem sabe um dia acontece…

Sem comentários:

Enviar um comentário