segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Post.it: Leitor ausente

Às vezes, cada vez menos, ainda me pergunto se me lês, se me vês, se me sentes, se me ouves nas palavras que te escrevo. Mas a escrita vai ficando cada vez mais só, mais intima, mais eu, aqui, onde quer que esteja, onde quer que estejas.
  É curioso pensar que não é a distância que nos separa, mas a nossa vontade, ou a falta dela. Escolhas que fazemos a cada passo que damos. Hoje, vou por aqui, porquê? Não sei, para ser diferente, para não me cansar de fazer sempre o mesmo, de ver os mesmos rostos anónimos, porque me cansa o que não sei. Apetece-me perguntar, quem és? O que fazes? És feliz? Tenho inveja da senhora que se senta no lugar da frente e que vai sempre, quase impulsivamente escrevendo frases, soltas, pensamentos, sonhos, desejos, desabafos. Cresce-me a curiosidade, quase, quase lhe pergunto o que escreve, mas paro a tempo desta decisão, não quero interromper, corromper a sua inspiração. Há quem diga que escreve sobre nós, sobre cada um de nós, as sensações que lhe deixamos, as criticas, as queixas. Não acredito, vejo-lhe o olhar distante, mergulhado em si. Escreve numa ânsia desmedida, numa inspiração incontrolável. Escreve, para si, para os outros. Tal como eu escrevo, cada vez mais para mim, já sem sequer me questionar se também escrevo para ti. Podem dizer que é triste, que nos dá solidão, talvez tenha começado assim, mas de repente, ganho consciência da liberdade que ganhei, sou livre, posso escrever o que me apetece, porque tu, meu leitor não estás aí! 



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