sábado, 27 de março de 2021

Post.it: Vidas suspensas

Há vidas que param, que são atropeladas pelo tempo. Porque o tempo, haja o que houver, não para. Segue em frente na sua corrida para uma meta que nunca atinge.
Por momentos imaginamo-lo como se fosse o coelho da Alice no país das maravilhas, sempre cheio de pressa, mas sempre atrasado para ir sabe-se lá onde. Quem sabe a um lugar imaginário, onde supõe ou deseja que estejam à sua espera. 
Assim é o tempo, sem tempo para se deter em nós. Não pára para ver quem ficou para trás, quem nesta corrida já não o acompanha. Nós ficamos mais vazios sem estas vidas, o tempo, indiferente a tudo, não fica vazio, porque está demasiado cheio, de assuntos, tarefas, objectivos, etc, etc. 
Enquanto nós vamos vivendo neste tempo actual, que nos parece estranho, indesejado  e atípico. O tempo parece não  notar esta mudança, as horas, dias e meses vão-se sucedendo, sem interregnos, sem confinamentos. 
Por vezes, quase gostaríamos de “prender” o tempo para que ele não nos fuja, para que ele espere por nós, que não o podemos viver tal como desejaríamos. Continuamos a ter aniversários que permanecem solitários, nascimentos que não podemos receber nos nossos braços, mortes que não podemos consolar.  
O calendário diz-nos que naquela data foi Natal, que a Páscoa se aproxima, e nós, suspensos, como que a viver numa realidade paralela, festejamo-la no peito, abraçamo-la sem abraços e viajamos até aos momentos felizes do passado para nos lembrarmos como era festejar sem restrições, sem ausências. 
Estamos suspensos no tempo, estamos fechados na vida, guardando no coração todo o amor que esperamos, que desejamos, brevemente voltar a partilhar.

 

27/03/2021

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