sexta-feira, 17 de julho de 2020

Post.it: Tudo me foge


Tudo me foge: O tempo, a vida, as sensações. Os raios de sol no olhar, o sorriso como espasmo do coração, a vontade de tudo e em tudo. Fica este nada, este vazio, esta sensação de partida. 
Há quem diga que se tem muitos nascimentos, será este mais um deles? É difícil nascer, falta-me uma mãe a expulsar-me do útero, falta-me um pai de braços abertos para me receber, falta-me os avós num olhar reconfortante, falta-me a direcção sem medo de me perder.
Nascer depois de tantas mortes é estranhamente dolorosa como se nos arrancassem do antes sem sabermos se será melhor o depois. É absurdo, mas habituamos-nos ao nosso dia a dia, mesmo que não nos faça feliz, é como um sapato velho  e feio que até nos magoa ao caminhar mas já está moldado ao nosso pé, já lhe conhecemos os defeitos e ele conhece os nossos. 
Conhecemos o hoje, o amanhã torna-se um abismo de incógnitas, será fundo, haverá luz, iremos perder-nos, quem nos responde? O silêncio! Velho companheiro, ele está sempre certo porque não se atreve a errar. 
Nós ao contrário, falamos, gritamos, achamos que temos sempre razão, lutamos vencemos mas perdemos sempre algo em cada vitória, um pouco da nossa paz por todas as guerras que travámos, porque há sempre sangue mesmo que não nos saia das veias, na dor,  no sofrimento, o nosso e o que causamos. 
Tudo me foge, olho em frente, será apenas um novo encontro?



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