terça-feira, 12 de novembro de 2019

Post.it: Gotas de esperança

Chove no seu olhar, uma ausência e muitas despedidas. É como chuva de Verão, não por ser refrescante mas por chegar fora de época. Quando acreditamos que tudo vai correr bem, que podemos entregar a alma ao merecido repouso, depois de um Inverno rigoroso, do frio, dos vendavais, do calor que se construía, com ramos secos duma árvore a que arrancámos a imponência, a solidez. 
Chove no seu olhar que me habituei a ver reluzente, como um sol que brilha mesmo que o céu desabe sobre a terra, criando rios, arrastando sonhos desenhados na areia da praia. Um sorriso embaraçado aflora nos seus lábios que sempre conheci cheios de beijos, para o amor, para os amigos, para os filhos e para tantos outros a quem não negava esse gesto de espontânea ternura.

Pergunto-me: quem, quando, como, alguém pôde ser a causa desse desespero, dessa mágoa. Esse olhar, sempre tão solidário, tão amigo. Esse olhar que não se deve magoar nem com uma pena de gaivota.
Numa voz magoada que lhe desconheço, ouço um murmurar que tenta ter firmeza, que tenta ser de ânimo: 
- Não ligues para as minhas lágrimas, são gotas de esperança.

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