sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Post.it: Síndrome de Hukleberry Finn

Às vezes, a única coisa que procuro é um pastor e eu aconchegado no afecto, deixo-me conduzir. Às vezes, a única coisa que necessito é de uma voz que me encha o silêncio sem ter o ruído de palavras vãs. 
Um olhar que me sorria e não que me prenda de ameaças. 
Às vezes, a única coisa que quero é deitar-me no caminho em vez de o percorrer. Cansado dos meus pequenos pés, os passos tornam-se distantes da meta. 
Às vezes a única coisa que espero é que o ponteiro do relógio pare e seja a hora certa para existir. 
Às vezes, já não quero nada, mesmo nada, porque mesmo o pouco me parece tanto, que nunca chega a vir. 
E o Natal enche-me de luzes de esperança, e acredito Nele, torno-me um eu, criança. 
Escrevo cartas sem remetente. Paro horas em frente às montras e deixo o olhar navegar, entre o que quero, o que desejo, o que sei que nunca terei. 
Mas depois arrumam-se os enfeites, tira-se a toalha da mesa, recolhem-se as figuras do Presépio, acaba-se a festa e voltam os dias em que cada estranho continua a ser um estranho. 
Nos anos, que prendas, talvez, se esqueçam e eu possa festejar esse esquecimento, sem ouvir o cinto cortar o vento e calar-se na pele silenciosa, porque, sim, chorar não basta… 
Às vezes, a única coisa que quero é não querer, não sentir, não temer, não ser.  
Como nada acontece, aprendo que posso ter tudo, aprendo que posso ser quem quiser, que sou grande, que sou forte, que corro mais rápido que o  vento, que voo mais alto que cada nuvem. 
Cresci, sou feliz, aprendi, sim finalmente aprendi, a mentir… 

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