segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Post.it: As estações da natureza

A última flor caiu da haste, uma espera demorada, uma despedida anunciada, uma lentidão dolorosa, dirão uns, ou, esperançosa, dirão outros. Depois a queda, o chão, a  ausência, a solidão. Depois o momento vazio, o vento do esquecimento.
Quanto tempo levou a nascer, a crescer, a revelar as suas pétalas de assombro. Tudo nela parecia um sorriso da natureza, tudo nela resplandecia em macia luminosidade. Todos os olhos paravam nela, ofuscados com o seu encanto e ela deleitava-se mais e mais em gestos que imitavam a leveza de um bailado clássico sem precisar de música, só precisava de ser admirada, amada. E foi, durante um certo tempo, enquanto a primavera a abrigou, enquanto o verão não enlaçou com os seus raios de fogoso calor.
Mas depois, quase logo de seguida, chegou o outono que debruçou a sua suave penumbra sobre a flor. Ela, que dançara ao vento, que desafiara o sol mais ardente, olhava para cada folha que a começava despir, com pena desse fim que lhe chegara antes da última valsa, antes do último olhar a abraçar.
Agarrava-se à haste como um barco que se prende à amurada de um cais.
“Vai” gritava-lhe o outono, “vamos não sejas teimosa, olha que o inverno se te vê ainda por aqui quando chegar, lança-te um tempestuoso sopro que te leva até aos confins do universo”.
 “Não, não quero partir, este jardim é a minha casa, as pessoas que me vêm visitar são os meus amigos”.
“Parte flor e acredita que há sempre um regresso, que estarão à tua espera na próxima primavera”.
Acreditando, partiu. Prometendo a todos que voltaria ainda mais bela.
Assim é a natureza, com o seu ritmo próprio, as suas chegadas e partidas. Cada época desempenha serenamente a sua função: O outono que vem limpar as folhas secas que antes foram sombra e abrigo. O inverno que vem regar a terra e encher os rios. A primavera florescerá replecta de cores e aromas dando as boas vinda ao verão que como sempre, será uma festa de calor e alegria.
Cabe-nos o papel de tudo cuidar, de tudo apreciar, quer seja inverno ou verão, quer esteja frio ou calor, quer o céu derrame lágrimas ou o sol sorrisos.

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