sexta-feira, 1 de junho de 2018

Post.it: Vou sentar-me na tua cadeira

Hoje, vou sentar-me na tua cadeira, vestir a tua roupa, calçar os teus chinelos. Hoje vou dormir na tua cama e acordar antes do sol se levantar, tomar os teus filhos como meus, chama-los uma a um com um beijo, preparar-lhes o pequeno almoço e levá-los à escola. Antes disso, vou passear o teu cão, deixar-me arrastar por um caminho que só tu e ele conhecem.
Hoje vou para o teu trabalho, enfrentar a tua rotina de chefes e colegas, de papéis cuja ordem só tu sabes por uma experiência de anos que torna fácil o que a mim me parece complicado e difícil de fazer. Almoçar ou talvez não, quantas vezes me disseste que nem tinhas tido tempo para almoçar, e eu pensava, que disparate, que falta de organização! Mas não, por vezes é mesmo assim, as tarefas são-nos exigidas e o dia não tem mais de 24 horas.
Está na hora de ir buscar as crianças à escola, de as levar ao ginásio, hoje é o dia da consulta do mais pequeno, não posso esquecer que tenho de levar o mais velho à explicação de matemática. E o trânsito que não anda e os semáforos que hoje estão todos vermelhos e o estacionamento que é quase como procurar uma agulha no palheiro.
Horas depois, finalmente o regresso a casa, ao descanso, mas depois de fechar a porta da rua, recomeça o reboliço, os banhos, meninos cuidado não se magoem com as brincadeiras! O jantar por fazer, o cão que salta à minha volta, já passa da sua hora de ir à rua. Espera, vou gritando em desespero, uma coisa de cada vez, vais à rua depois das crianças jantarem. Até vai ser giro, um passeio relaxante, não achas? Mas o Buddy, não concorda comigo e acha que deve ser tudo na ordem inversa. Pronto, venceste, primeiro o teu passeio higiénico, depois o banho das crianças, o jantar, lavar a loiça e sentar-me no sofá a ver um pouco de televisão. Parecia um bom plano, mas o sentar no sofá, raramente acontece, depois do jantar é a hora da partilha, cada um conta um pouco do seu dia e depois está na hora de irem para a cama, de confirmar se os dentes foram lavados, de os aconchegar, de lhes dar um beijo na face rosada e deixar sobre a cadeira a roupa que vão vestir amanhã.
Agora sim, o sofá é meu, digo eu e semelhante pensamento tem o Buddy, o golden retriver que é mais rápido e de um salto estende-se todo sobe as almofadas. Ok, vou para a cama, assim, como assim, se me deitasse no sofá adormecia de imediato.
O despertador toca, já é manhã, está na hora de acordar o dia, as crianças, a vida, a tua vida. Só então percebo o quanto é difícil, a força e a coragem que tens para a viver. Invejo-te, não o que tens, mas o que és.
E penso, de vez em quando todos nós devíamos calçar os sapatos dos outros, antes de os julgar, criticar, devíamos ajudar, devíamos agradecer-lhes o existirem, tal como são.



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