segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Domingo de cachorro

A chuva dorme no colo do domingo,
Logo no dia mais belo da semana.
Desmorona-se tudo num só pingo,
E o frio dum vazio já do dia emana.

Deito-me num sofá desolado,
Todos os meus planos afogados.
Se a alma se deixa abandonada,
O olhar desce as ruas agrilhoado.

A minha dona bem me pede abraços,
Joga-me a bola, afaga-me o rosto.
Mas tudo me são tristes embaraços,
Todas a horas me são de desgosto.

Pedem-me os passos para caminhar,
Para as árvores já lhes tarda a visita.
Os prédios anseiam por ver-me passar,
E até o sol se entristece se não me fita.

Há cães que gostam do inverno escuro,
Até gostam deste céu que assobia ruidoso.
A mim colocam-me uma capa que esconjuro,  
Deixo de ser cão, de quase humano e feioso.

Eu que sou feito de ventos e vendavais,
Preciso de correr até à linha do horizonte.
Todos os dias me são uma prisão de iguais,
O domingo é a minha libertadora ponte.


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