sexta-feira, 7 de julho de 2017

Post.it: Águas passadas

Importa o que se disse? Uma palavra, uma frase, um momento, é isso que nos define?
Penso que não, quero acreditar que não. Uma palavra,  um grão perdido num vasto areal.
Somos esse areal, por vezes moldados pelo vento, por vezes inundado pelo mar. Mas sobrevivemos, de quando em vez, até renascemos qual Fenix emergindo das cinzas. Porque somos mais, muito mais que uma palavra.
Por mais forte e vinculativa que ela seja, por mais dolorosa que nos tenha parecido. Por mais duramente que nos tenha atingido. Por mais pungente, cruel, até, nunca passará de uma palavra.
Que não é nada, perto de nós que somos tanto, que somos tudo o que somos. Porque somos tudo o que querem que sejamos. Quando querem sejamos sorriso e não  lágrima. Quando  querem que sejamos inteiros e  estamos tão espartilhados de mágoas. Quando querem que sejamos (mãe)  quando apenas queremos ser (filha), ter um colo e um abraço.
Mas as palavras inquietas, irreflectidas saem da nossa boca e deixam de nos pertencer. Tão rápidas que nem as sentimos, não eram para aquela pessoa, não eram para aquele momento, são o reflexo de um caminho, das pedras, do cansaço.
Depois, são águas passadas ou talvez não, porque a corrente do rio nem sempre tem forças para afastar de si todos os pequenos e grandes atritos. Como um moinho, continuamos a moer e a remoer as palavras na esperança de que passem a pó e o vento as leve consigo num voo de esquecimento.
Um dia percebemos finalmente que não são as palavras que nos magoam, somos nós que nos deixamos magoar por elas, a ferida aberta deixa-se tocar e a dor que já nos doía, apenas, dói mais.
É preciso curar a ferida para esquecer, depois de se cicatrizar a pele, cicatriza-se a alma para que um dia as palavras sejam apenas palavras e não sejam nós.

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