sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Post.it: O desencantamento do Natal

O que fica do Natal? Por vezes pouco mais que caixas de cartão rasgadas, de papéis coloridos estilhaçados, de brinquedos velhos deitados para a rua porque os novos tomaram o seu lugar. As luzes das ruas que se apagam, o pinheiro arrancado da terra jaz sem raízes tombado nos recantos da cidade. As pessoas voltaram a olhar apenas para o caminho e já não uns para os outros.
O Natal acabou, temo mesmo dizer que em alguns lares, em algumas vidas Ele simplesmente não aconteceu, porque embora tenham cumprido o seu ritual de compras, de troca de prendas, ou enfeitar da casa e da mesa, não receberam nos seus corações. Limitaram-se a “ir na onda”, a procurar satisfazer vontades próprias. Foi apenas uma festa, à qual faltou o festejado. A história de um menino que nasceu em Belém, torna-se longínqua, ténue na lembrança, coisas de criança, dizem. Agora é mais o Pai Natal e todos sabem que ele não existe, que não desce da chaminé nem recompensa os meninos bem comportados. E depois, já nem somos meninos, somos adultos, temos deveres, muitos, cada vez mais deveres. Sufocamos nos impostos, perdemos-nos nas burocracias, consumimos-nos nas rotinas de um ano inteiro e depois chega a um dia em que é Natal e querem, ou melhor esperam de nós, que sejamos apenas humanos, que revelemos a verdade do que somos, a criança que ensinámos a não chorar, a lutar para vencer e conquistar o seu lugar ao sol.
Não é fácil, tentamos, despimos cada camada defensora com que vestimos os dias, com que revestimos de apatia os meses e revelamos pouco a pouco, com receio de cada olhar mais crítico, a nossa alma pura e ainda crente na humanidade, sociável, solidária, tolerante, generosa, capaz de erguer presépios em cada lar, de aquecer com amor as palhinhas de um menino que embalamos e que nos embala o coração. 
Porque apesar desencantamento do Natal, do consumismo, da tecnologia, da cibernética, etc, etc., algures em nós há um Natal ansioso por nos nascer e se manifestar, na maior parte das vezes só surge em Dezembro, mas a história está replecta de Natais que acontecem quando menos se espera, quando alguém sorri para o outro, quando lhe estende a mão, quando partilha a sua sorte com quem não a tem. Heróis do nosso tempo, Pais Natais que nos chegam sem ser de trenó, Menino Jesus que se aconchega dentro de nós para se revelar na ocasião em que mais seja necessário e nem sequer precisa de ser Dezembro, basta apenas que seja Natal em qualquer momento do ano.

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