sexta-feira, 1 de julho de 2016

Post.it: Escrever nas linhas da vida

Às vezes escrevemos o que a memória nos permite, o que a fantasia nos possibilita, o que a vontade de alcançar nos faculta. Mas são sempre histórias, as nossas, as dos outros e as daqueles que passam por nós e deixam uma qualquer inspiração.
 Nem tudo é verdade, nem tudo é mentira, depende de quem lê, a tornar a sua verdade ou a sua mentira ou apenas fantasia. “Lemos porque buscamos na leitura a história que não vivemos”. Lemos porque precisamos de sonhar ou por vezes de acordar.
Lemos para voar e cada página é uma asa aberta ao horizonte de infinitos. Lemos porque necessitamos de aterrar, de encontrar portos de abrigo para vencer as nossas tempestades.
Os livros nada mais são do que pedacinhos de nós. “A minha estante está cheia de gente”. E essa gente que tenho por amigos, fieis, companheiros, sempre presentes, quando, de repente, o silêncio enchesse de vozes, de palavras, de pensamentos.
Deitada no sofá, corro por cada página atrás de cada frase, que mais parece um comboio em permanente viagem. Cada momento empolgante, rouba-me o ar, o olhar fica em suspenso, preciso parar, preciso de retomar a história, percorrer o fio desses intrincados meandros.
Sofro, como sofro pelo sofrer de cada personagem. Apetecia-me rasgar aquela página, rescreve-la, dar-lhe um destino melhor.
Porque se na vida real não temos essa possibilidade na literatura “o céu é o limite”. Mas isso é roubar as palavras ao autor, furtar-lhe os pensamentos, distorcer-lhe os sentimentos, usurpar-lhe a intenção, invadir-lhe o coração e tornar nosso o que não nos pertence, mesmo que o tenhamos comprado, que esteja na nossa estante.
Nessa estante onde esteve toda uma vida quando por um qualquer acaso resolvemos folheá-lo e agora, agora estamos armados em críticos da sua inspiração. 
Que vaidade a nossa! Querermos rescrever uma obra editada, quando nem sequer conseguimos passar da escrita ingénua que desenhamos nas primeiras linhas da nossa vida…

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