quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Post.it: A Hora

 “L´heure, c’est l’heure; avant l’heure, c’est pas l’heure; après l’heure, c’est plus l’heure”

Quantas vezes me citou este verso no seu francês melodioso, que até eu que sempre achei esta língua amarga e seca, gostava de ouvir e repetir. A tradução é menos bela, parece que se perde o sentido, que há algo do sentir que fica no eco perdido. 
“A hora é agora. Antes da hora ainda não é hora. Depois da hora já acabou a hora”.
A hora é agora, neste agora que não é meu mas seu, apenas seu. Nós que não temos este agora, desejamos que parta a hora e não leve embora quem queremos sempre e agora connosco. Mas eis que a hora reclama o seu momento neste exacto e triste agora levando-a de nós embora. Ela vai,  imagino, sorrindo, como sempre a vi sorrir. Nem a falta de saúde, nem as limitações lhe roubaram o sorriso nem as palavras sempre gentis e amigas, nem os gestos harmoniosos. O coração que era em tudo tão grandioso, parou naquela hora em que a vida se foi de si embora e nos deixou sem a sua amizade, o seu carinho neste vazio de agora. 
Não sei se reclama se implora o meu peito que por dentro a chora,  porque para mim veio demasiado cedo a sua hora. Era noite que se diluía pela madrugada fora. Pareceu-me que tudo acontecera sem demora e já o dia amanhecia, e já o sol se incandescia e um último abraço a envolvia. Depois, a suavidade de um silêncio, o vácuo daquela hora que suspensa na eternidade do instante, para depois continuar a sua jornada de cada momento, de cada hora, a que fica, a que se vai embora no seu tempo que é agora. Claro que o tempo se prolonga para além das vicissitudes de cada hora e fica e permanece sem do coração se ir embora. 
Obrigada por cada hora partilhada com a sua amizade que tornou a minha vida mais bela, e por isso, mais triste nesta hora.

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