terça-feira, 4 de agosto de 2015

Post.it: Casamento

Há diálogos de silêncio, palavras que nos dançam no pensamento, ideias que se enlaçam nos neurónios mas que simplesmente, não ganham som. Não as partilhamos, não as oferecemos, não as lançamos na tentativa vã de soltar a voz e trocar os ditongos silábicos do dizer.
Contudo, o diálogo permanece mudo, é certo, mas fervilhante de vida, de olhares, de espera, de ansiedade. Cresce-nos um deserto no peito e uma sede de sons independentemente dos tons mais ou menos harmoniosos, mais ou menos agrestes.
Se ao menos me gritasses ecos do coração, se ao menos me dissesses o que preciso escutar. Sim, bem sei que também esperas, que desesperas, mas o orgulho, esse maldito orgulho! Emudeceu-me, ensurdeceu-me, que se falasses, teria talvez, dificuldade em escutar-te.
Onde estão os momentos que prometemos viver para sempre? As promessas de que nunca haveria dor, nem traição, nem necessidade de perdão. Acreditámos nas rosas, desvalorizámos a possibilidade de surgirem espinhos. Não, isso nunca aconteceria a nós. Tínhamos tudo, mas tudo para dar certo, para termos um percurso diferente. Não cairíamos na rotina, nem no cansaço, nem na preguiça acomodativa dos dias e sobretudo das noites em que passámos a adormecer sem um beijo de despedida.
E afinal, tudo nos aconteceu. É verdade que o tempo, a vontade, o carinho, o querer, cura qualquer mágoa, resolve qualquer problema, mas fica a cicatriz transformada em ruidoso, doloroso, silêncio.
Há quanto tempo estamos juntos?
Muitos… Dirás.
Demasiados… Gritarei, apenas por soberba. 
Pouco, muito poucos, demasiado  poucos para o amor.

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