quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Post.it: O nosso tempo

 “Eu venho dum tempo que por vezes me parece perdido no tempo, de uma geração que se deixou influenciar pela anterior e esta pela que a precedeu. Hoje as gerações influenciam, contagiam na ordem inversa já não do passado para o presente mas do presente para o passado, para que não se sintam, humano-excluídas num fosso de diálogo e de conhecimento.
Não sou saudosista do tempo mas das coisas boas, verdadeiras, de saber que se pode caminhar por ali e se nos perdermos alguém nos trará de volta, alguém que se interessa, que se importa com o seu semelhante.
Lembro-me de me dizerem que simpatia gera simpatia; que o bem gera o bem, mostrando que a boa vontade é contagiosa. Mas quem se deixa contagiar? O bem passou a ser aquele que recebemos, não o que fazemos. A simpatia é a que exigimos mas não a que partilhamos.
E todos os dias mergulhamos nas nossas preocupações, nos caminhos da cibernética e sentimos que temos uma multidão à nossa volta, no entanto quando desligamos o botão, só ouvimos o silêncio e o eco que escutamos é unicamente o som solitário dos nossos passos. O mundo cresceu e no entanto conseguimos tocar-lhe com a ponta dos dedos. Sabemos tanto de tudo e no entanto sabemos tão pouco de nós e cada vez menos dos outros. Que posso deixar de testemunho às gerações vindouras? Nada! Elas querem aprender com o futuro e não com as lições do passado. E as pontes são cada vez mais elos de afastamento e os mares cada vez mais ondas de lonjura. Não sei se os barcos voltarão ao nosso cais, não sei os passos pisaram as finas areias da nossa praia. Não sei se partilharemos o mesmo olhar delineando as fronteiras do horizonte. Não sei se teremos algo em comum que não seja apenas o que somos na individualidade, na indiferença, na ausência que nos torna ilhas de estéril sentir. Que me o diga o tempo, já não aquele de onde venho mas o tempo  que vai partindo de nós.”
Eu, sou desse tempo, não na sua cronologia, mas em valores e sentimentos, em entrega, não sei o quanto há de verdade na sua verdade, que sem querer sinto-a um pouco minha. No entanto,  recuso-me a aceitar como definitiva essa possibilidade. Recuso-me a pensar que são causas perdidas. Que as gerações são fronteiras intransponíveis. Que os valores se perderam em definitivo. como deixar de acreditar quando uns olhos pequeninos mergulham nos meus, quando uma mão minúscula segura com firmeza o meu dedo. Sim ele acredita em mim e eu preciso de acreditar nele. Quem sabe o tempo seja um dia, finalmente nosso.