sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Post.it: É aqui que pertenço

“Não quero morrer sem ver a cor da liberdade” (Jorge de Sena)

“Não quero morrer sem ver a cor de um país sem crise” Acrescento…

Sempre que acordo, ouço nas notícias da rádio, novas soluções económicas, mais problemas para quem tem de as suportar. Essa curta manta que quando puxada para a cabeça destapa os pés,  (alusão a uma frase do Clube dos poetas mortos).
Pergunto-me se Jorge de Sena procurava a eternidade ou se acreditava realmente que um dia a cor da liberdade iria realmente surgir. Felizmente ela surgiu e ele pode descansar feliz.
Quanto a mim, confesso a minha cada vez menor crença e por isso, talvez, procure mesmo a imortalidade, uma desculpa para me eternizar neste recanto do mundo, que tem crises, erros numa suposta democracia, usurpações nos direitos do cidadão, nos direitos humanos, no direito de nascer e crescer feliz. Mas é este o meu pais, aquele que me foi pai  que me foi mãe, que me ensinou lições de humanidade, de cidadania, valores de moral e de ética, ainda que talvez com aquela máxima do “faz o que te digo, não faças o que eu faço”, mas não deixou de à sua maneira de faze-lo, de perpassá-lo do passado para o meu presente. Deixando-o como herança para o breve e o longínquo futuro.
Por vezes tal como um filho que lhe vê negado um pedido, revolto-me, grito, choro, amuo, faço silêncio sepulcral, ameaço partir e nunca mais voltar, mas fico. Que fazer? É aqui que pertenço, já conheço cada pedra da calçada, vou conhecendo/reconhecendo até cada buraco da estrada. Já conheço cada raio de sol, cada noite com ou sem luar, cada onda de intranquila maré que se estende suave no areal, cada grão dessa praia, cada estrela que brilha na escuridão.
Mas gostava, gostava mesmo de não morrer sem ver este país florescer, deixar de ser “lixo” para as estatísticas. Voltar a reacender o sentido e o gosto de ser português, um povo sereno, trabalhador, lutador, conquistador de mares desconhecidos, afável, bom anfitrião. Esse português latino de guerra e de pranto, lamechas, pessimista, mas todo ele uma fortaleza de excelsas vitórias. Com um fado que lhe cresce na alma, e a eterna saudade de ser um passado que deseja no futuro continuar a ser glorificado e a levar de si testemunho por todos os cantos e recantos do mundo. 
Não quero morrer sem que Portugal deixe na terra os contornos geográficos da esperança e todos nós rememos finalmente na mesma direcção, porque se for preciso navegar para conquistar a felicidade, navegaremos, com os olhos no mar e o coração em terra. Navegaremos e com cada gota de água salgada feita de lágrimas e de riso, construiremos o nosso pequeno/grande paraíso na face lunar do destino. Entretanto, vou acordando ao som das notícias, sempre pouco animadoras, mas no meu peito o coração rejubila de expectativa e espera, por vezes quase desespera, é hoje, é hoje que renascemos das cinzas como uma Fénix que vai finalmente levantar voo e voltar a ser na ponta da Europa um jardim à beira mar, com um largo e franco sorriso, porque finalmente tem motivos para sorrir. Não foi hoje, mas talvez não demore a chegar ao cais a solução. Eu acredito, sou assim, não consigo desistir de ter confiança, fé, desejo, vontade. Nunca deixarei de lutar, está-me no sangue de ser portuguesa!