quarta-feira, 18 de junho de 2014

Post.it: Como não gostar do verão...

Gosto do verão e já os acalorados suspiram e abanam um leque ansioso por agitar o ar, por fabricar brisas de frescura. Enquanto outros mergulham de imediato no armário em busca de calções, camisolas de alças, de chinelos e todo o corpo grita por uma liberdade que os espartilhos do inverno agrilhoaram por um tempo que nos pareceu infinito na trilogia de chuva, vento e frio.
Gosto do verão atrevo-me a repetir enquanto olhares fulminantes parecem querer matar-me as palavras; ligam as ventoinhas, os ares condicionados, escondem-se nas sombras urbanas, bebem litros de água como se o calor lhes ardesse no peito, e arde, “é da idade” dizem entre um sorriso que se solta porque nem tudo na “idade” é mau, também cresce a tranquilidade, a sabedoria de quem percebe o sentido da vida: aprende-se a vive-la em todos os seus momentos e retirar de cada um o que tiver de melhor. Porque a “idade” ensina-nos que a vida é infinita se for vivida e apreciada mas rapidamente finita para quem estende o olhar, o coração ao horizonte longínquo e não vê, sente, o que lhe está perto. 
Gosto do verão, insisto, mesmo com todas as picadelas de insectos, que digo em tom de graça que são beijinhos, afinal nem chega a ser desgraça e tudo acaba com uma injecção antialérgica. Depois lá ando com coloridas protecções: pulseira amarela, ultrassons em tons de azul e branco e quando a escuridão desce do céu, à minha volta desenha-se o que poderia  ser uma cena de ultra-romantismo, mas é apenas um conjunto multicolor de velas repelentes de insectos.
Mesmo assim, permitam-se a repetição quase estóica, “gosto do verão”. Quando as noites tardam em chegar e o dia se prolonga numa ténue  luz que suavemente se  dissolve por entre os ramos das árvores, deleitando-se pelos telhados, estendendo-se lânguida e terna pelas ruas, tocando rostos, acariciado as flores que aos poucos se vão fechando recolhendo para um sono profundo. O dia adorna-se  com o mais belo pôr-do-sol que se dissolve gentil sobre um leito de mar, cresce um silêncio de profunda admiração pelo pintor celestial que compôs tão bela e harmoniosa paisagem. 
Como não gostar do verão…

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