segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Post.it: Renovação dos votos

As flores, os caminhos as noites, os dias, os olhares, as mãos entrelaçadas, as chuva copiosa a descer a calçada. A tua pele despida, a tua voz murmurando o meu nome.
Resta-nos o silêncio só interrompido por banalidades. E de repente o romance passa a ser preenchido por esse pequenos nadas, que nos alimenta a saudade de nós, como eramos dantes. 
Aprendemos que deve ser assim em nome da paz e da amizade que começa a substituir o amor. Começo a questionar-me, quando, como, sem encontrar respostas.
Onde nos perdemos? Talvez no reencontro desse novo nós. Curiosamente, não me magoa, esta nova situação. Acabo por a sentir tão doce, tão calma, é como se caminhasse no escuro sem receio, porque já conheço o caminho, cada sinuosidade, cada tonalidade. Os amigos dizem que nos acomodámos, mas dizem-nos como se isso fosse negativo. 
Acento vagarosamente com a cabeça, sim acomodámo-nos, um ao outro como a mão à luva, cabendo cordialmente uma na outra.
Sim é verdade, o mundo perdeu as nuances vibrantes de cor, de calor, agora,  vemos as coisas mais em tom pastel. O meu amigo Ferreira, homem das tiradas filosóficas repete em tom de sabedoria, “dantes perdíamos a calma, agora ganhamos a alma”.
Adormeço na mesma cama, há quantos anos? 50 anos, dizes resmungando, zangada por eu o ter esquecido. Não lembro as datas mas lembro os momentos, quando te vi pela primeira vez, de vestido amarelo dançando ao vento, lembro-me que sorriste e, a partir desse momento já não te ouvi, perdido que estava na tua visão. 
Depois, fizemos um caminho juntos, nasceram os filhos, cresceram, saíram do ninho. Fomos ficando cada vez mais sós, eu sem ti, tu sem mim. 
No entanto, ainda me surpreendo a oferecer-te a minha mão quando caminhamos na rua, já não é amor, penso. Ou melhor é uma nova forma de amar, um carinho, uma compreensão mútua. Saber o que sentes sem que o precises de dizer. 
E isso, conforta-me, saber que estás ali, mais do comigo, para mim e eu para ti. Sei que ainda temos muito para partilhar, para dar, para à nossa “velha” maneira, amar. Aceito-te por mais 50 anos, digo a sorrir, quando renovamos na igreja perante familiares e amigos, os nossos votos de casamento.


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