segunda-feira, 15 de junho de 2015

Post.it: Dar e receber

Mais uma conversa de “Bus”. Gosto destas conversas, perdoem-me a cusquice,  mas quem passa horas neste meio de transporte, apertado como uma sardinha em lata, tem de se distrair para não entrar em stress, além disso acho algumas tão enriquecedoras desta nossa sociedade com todos os seus defeitos e virtudes que é impossível fechar os ouvidos, desviar o olhar , a menos que me ponha a ler ou a jogar com o telemóvel, coisa impossível para mim que neste tipo de situação fico tremendamente enjoada.
Porém, devo confessar com alguma nostalgia que tenho pena que estas conversas comecem a rarear, que cada vez mais cresça o silêncio, a distância entre companheiros de viagem. Mas vão surgindo outras que me chegam em mono, porque apenas ouço um dos interlocutores enquanto o outro unicamente o adivinho do outro lado da rede, algures na cidade, no país, no planeta. Mas quando há conversas entre duas pessoas presentes, que se olham cara a cara, não deixo de lhes prestar alguma atenção. Aqui fica um pequeno excerto, aquele que me interessou. 
 “ -  Mas tu ofereces para receber?” Perguntava alguém com ar de quem tudo sabe e por isso sente-se no direito de tudo criticar. O tom soou tão reprovador que de imediato a outra pessoa, que por um breve momento intentou responder num culpado encolher de ombros de assentimento positivo, o que podia ser interpretado como uma quase “ fraqueza humana”, perante aquele tom e olhar gravemente recriminatório que olharam os seus de forma desafiante, de imediato endireitou a coluna numa atitude de esforçado  brio e com o orgulho ferido e puxou pelos valores civilizacionais (porque ainda há quem os tenha) e respondeu com falsa firmeza.
 “ - Claro que não, dou sempre sem ficar à espera de receber algo em troca."
Sorri por dentro, chorei por dentro, porque eu, eu humana, frágil, sensível, sincera, verdadeira e cheia de coragem de o ser, que me perdoem se tudo isto é defeito, sim, confesso, dou e fico ansiosamente à espera de receber. 
De receber, tão somente, a ternura de um sorriso.