segunda-feira, 23 de março de 2015

Post.it: Nova oportunidade

 Quantas vezes inventamos os outros, reiventamo-nos a nós, não por uma mera fantasia, um sonho do qual acabamos por acordar, mas por um desejo, uma vontade que ergue velas e nos faz navegar. Então vemos tempestades num mar de bonança. Pegamos nos remos e queremos fugir. Fugir de um perigo que afinal não existe, é apenas o nosso peito triste que o cria, que o teme. É sempre difícil sair da nossa área de conforto e encarar o outro tal como ele é e não como o queremos consonante com a nossa maneira de ser. Acreditamos que é aí que está a paz e a felicidade e continuamos em crescente na nossa guerra. Mas o outro, será sempre o outro por mais que nos estime, admire, ame, não é um reflexo, uma extensão de nós, do nosso querer.
Podemos tocar, abraçar. Podemos dar-lhe o melhor do que somos e esperar não a reciprocidade, mas que continue a ser a pessoa que é que entrou na nossa vida porque deixámos entrar, que ficou porque deixámos ficar, não porque nos era um ideal mas porque era alguém que de alguma forma acrescentava algo em nós, que nos permitia ver algo que sozinhos não conseguimos ver. Porque nos fez sentir algo que sozinhos não conseguimos sentir. E por isso, nem que seja só por isso, ficamos gratos. Por esse encontro que podia nunca ter acontecido. Afinal há centenas, milhares de pessoas com quem nos cruzamos em toda a nossa vida, que bom que é que exista alguma que nos toca e que tocamos, ainda que por momentos, que podem durar meses, anos, quiçá, o resto da nossa vida em que lhe damos algo de nós e recebemos algo de si. Pode ser eterno num limite de tempo, mas pela intensidade, conquista dentro de nós a verdadeira eternidade. Depois, que importa o depois, não vamos tornar a primavera em gélido inverno, não vamos acrescentar espinhos às flores só porque nos perecem os amores, porque se afastam as amizades. São belos todos os momentos, magníficos e devem ser vividos como se não houvesse amanhã. E se o amanhã vier, será mais um feliz hoje. Se no entretanto, numa qualquer curva do destino, nos desencontramos, que nos fiquem motivos, muitos..., para guardar como semente para a próxima primavera, talvez assim  ela volte de novo a florir e a ser a mais bela e perfumada que não se deixou afogar na dor, que não se prendeu à saudade e que teve a coragem de abrir as pétalas ao futuro. O futuro que será sempre, sempre, não o que quisermos, o que idealizarmos, imaginarmos, sonharmos, mas unicamente o que nele somos de luminosidade, ou de penumbra. Por isso, se esperares, espera com um sorriso. Se lutares, luta com fé. Se encontrares, aprecia cada momento. Se perderes algo ou alguém, acredita que nunca será uma perda, mas antes o ganhar de uma nova oportunidade para recomeçar, para fazer melhor, com mais maturidade, com mais amor para dar e para saber receber.