Estive
lá, lá onde a terra cresce em direcção ao céu e o quer tocar, e o quer abraçar.
As casas salpicam aqui e ali a encosta escarpada, agarradas firmemente à terra.
O
coração quase nos salta do peito de susto, de temor pela sua obstinada
tentativa de ai se fixarem matizando o verde de uma vida diferente, argamassa
de terra, cimento e suor humano.
Estive
lá, nessa ilha de profundos vales incrustados por entre os altos picos que
acompanham toda a suave costa.
Estive
lá, nesse jardim flutuante de flores que
ladeiam as estradas numa companhia para quem por elas sobe com esforço a
ingreme montanha. No topo a floresta de Laurasilva que confere ao norte da ilha
uma paisagem diferente é de uma admirável imensidade verdejante. E a viagem
continua torneando as apertadas curvas onde um rio contínuo de Levadas nos acompanham cumprindo a sua missão de transportarem as águas do norte mais húmido
para o sul mais seco, numa generosa partilha desse bem tão essencial para a sobrevivência
para que floresça o verde e humano.
Estive
lá, nas “Terras do vento leste”, terra de sabores cruzados, de costumes, de
lendas e de folclores.
Estive
lá, não sei se lá regresso, nunca
sabemos os desígnios do destino, mas talvez nem precise de voltar, porque trouxe essa ilha no recanto do olhar, no ar
do peito que ali bebeu desse azul, tão imensamente azul de um mar que não
existe em mais nenhum lugar.
A
cultura, o carácter, o orgulho peninsular de quem ai quer nascer, crescer e
permanecer, cruzar o oceano mas regressar porque esse é o seu lugar, essa ilha
onde o coração desperta e adormece embalado pelo mar e protegido pelas
montanhosas escarpas que se erguem para ficar mais perto do céu e do sonhar.
Estive
lá, nesse “jardim sobre o mar onde se uma pétala caísse toda a ilha ficava
triste”.