De
onde lhe vem a coragem de ser rosto, rosto desnudado que mergulha todos os dias
na multidão, que lhe dirige o olhar, que lhe oferece um sorriso, que lhe
esconde uma lágrima.
Rosto
anónimo para o universo de vidas, para o cosmos de estrelas. Para este sol que
lhe queima a pele, para cada sombra que lhe oculta a verdade do que é, do que
sonhou ser.
De
onde lhe vem a vontade de estar com os outros mesmo quando lhe negam o olhar,
quando lhe recusam o direito de existir, de chegar a algum lugar mais cimeiro,
a tocar ao de leve os seus corações. Ou quando lhe e usurpam a luz do luar com
a sua crítica reprovativa do que é, ou do que vêm no seu rosto com um olhar
deturpado pelo preconceito e avaliação social, moral, cultural.
E
mesmo assim prossegue neste universo de dias, de anos, que lhe foi desenhando
que no rosto sulcos dos caminhos que palmilhou.
As
minhas mãos inertes de habilidade, não conseguem desenhar os traços de amor que
lhe esculpem a face.
Ao
meu olhar, falta-lhe a sensibilidade necessária para compreender as linhas que
o sentir deixou visíveis na suavidade da sua pele e, que nem a erosão dos
tempos lhe conseguiu apagar.
De
onde lhe vem a vontade de nos anunciar um reflexo de si, de nos oferecer sem
medo, a coragem de ser rosto?