“Às
portas do verão e ainda está a chover”, o que vale é que estamos às portas do
fim de semana, concluo tentando desvalorizar a situação. Até porque gosto de
fins de semana com chuva a cair lá fora enquanto a fico a observar com romântica
nostalgia.
Mas
esta citação radiofónica logo pelo despertar, levou-me a questionar sobre o que
na vida nos fica à porta e que talvez, só mesmo talvez, se atreva a espreitar
pela janela: sonhos, expectativas, desejos, projectos que levamos dias, meses,
anos a construir e que param perante uma porta, apesar de saber que para lá
dela, pode estar um raio de sol, uma luz no fundo do nosso futuro.
Sem
querer entrar em vãs filosofias, nem procurar causas, culpas ou desculpas,
deixo o meu espirito prático ir mais longe, ensino-o a olhar cada porta fechada
como um desafio e não uma desistência. Se aqui estou, então vou bater nessa
porta, empurra-la, buscar uma chave que se encaixe na sua fechadura e se mesmo
assim não a conseguir abrir, não vou baixar os braços, entregar-me ao destino
como se nada mais me restasse do que deixar que outra mão escreva o que sou e o
que serei. Afinal isso já eu sei, se desistir de mim, serei apenas uma vida
fracassada, uma vida que nunca passou da soleira da porta.
“Às
portas do verão e ainda está a chover”, então vou para a rua, de impermeável
vestido, de chapéu de chuva e de alma leve.
O
verão está à porta, há de entrar, mas agora está na hora de viver o momento, de
encontrar nele a beleza que tem, e depois, arregaçar as mangas da vontade e
entrar pela porta, pela janela, pela fechadura, até porque os sonhos, mesmo os
grandes sonhos, entram e cabem em qualquer lugar por minúsculo que seja, e se
não conseguirmos tocar o sol com o olhar, teremos sempre um luar para abraçar.