“A
vida é feita de encontros e desencontros” já dizia o genérico de um programa
televisivo. De vidas que nos chegam, vidas que de nós partem, que existem nela
de forma presente ou de forma ausente. Uma ausência que não parte de nós só
porque os olhos não se cruzam, as vozes não ressoam no mesmo canal emissor,
porque não aparecem no email, no facebook,
em sms, no skype, nem através de
telepatia. Mas uma brisa da memória pode trazer-te de volta, e de repente
estamos a questionar os neurónios sobre aquele perfume que nos tocou os
alvéolos, aquela gargalhada que nos parece auditivamente conhecida, aquela frase
que lhe era expressão habitual, aquele sorriso, idêntico que lhe dançava constante
nos lábios.
Revolvemos
os arquivos das lembranças, numa ânsia intemporal, e uma mágoa comprime-nos o
sentido das emoções como de uma estranha orfandade se tratasse. Então numa
quase surpresa que nos invade o peito vem sem se saber de onde um longínquo suspiro ecoa o seu nome, ainda sem
rosto definido, ainda sem memória de
momentos partilhados. Mas ainda assim, invade-me
uma saudade, uma vontade de voltar atrás, de retomar aquela estrada onde nos
perdemos. No fundo é retomar do que eu fui, porque somos sempre um pouco o que
os outros são, moldamo-nos, encaixamo-nos, embalamo-nos nessa forma que nos
conforta. Quando há uma separação, um desencontro, há um laço que se corta, há
um pouco de nós que se perde no outro e fica com ele até nos esquecer, nos
apagar do seu passado sem nos levar para o seu futuro.
Levo
a chávena de café aos lábios, sinto o seu aroma, o seu sabor amargo, porque, sim,
continuo a gostar de café sem açúcar, e
lembro-me da tua última frase, “Ainda um dia tomaremos um café juntos”. Ainda
não foi este, quem sabe o próximo…