Povoamos
o mundo com inutilidades, daquelas que
não dispensamos, que temos que comprar num impulso imediato, num gesto triunfal
e que depois colocamos num qualquer canto da casa, definitivamente esquecidas.
Confesso
que sou membro desse “clube”, “ou não fosse ela mulher”, dirão os homens com ironia acutilante. Mas a verdade é que embora
me assuma consumista de frivolidades, o sou cada vez menos, não só pela crise,
mas porque, não tenho necessidade nem nunca tive, de adquirir ‘coisas’ só por adquirir. Mas
conheço pessoas assim que acumulam “tralha”, porque a dada altura no longo
percurso de uma vida, os objetos vão ficando descontextualizados no espaço e no
tempo. Para que guardas tantas coisas? Pergunto-lhe já cansada de esbarrar
com as imensas bugigangas. “Sei lá, acho
giro, são coisas com histórias, são objetos que compro porque me enchem o
olhar, são coisas que me dão com tanto carinho, como me vou desligar delas?”
É
esta a histórias das inutilidades, o percurso que já fizeram até às nossas
mãos. Inúteis para quem as olha e nada sabe o que as levou a chegar aqui e a
permanecer.
“É
bem verdade que quando um dia encetarmos a longa viagem nada disto poderemos
levar, mas enquanto o navio não parte, ficamos no cais, a acariciar com o olhar
cada objeto que já nos tocou o coração.” Rendo-me a esta confissão, olho cada objeto
com um novo olhar e “rezo” para não tropeçar em nenhum deles e destruir a sua
memória..
Porque
afinal não são um mero acumular de “tralha” mas um acumular de carinho, uma
coleção de atenções que nos ofereceram e que nós retribuímos talvez com outras
tantas “bugigangas” que pretendem ser uma partilha de gratidão e de emoções.
Povoamos o mundo com aparentes inutilidades ou melhor, com verdadeiros
tesouros.
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