“Talvez
diga que não, talvez finja que já não me importo. Tens razão, finjo mal. Embora
tente, insista, ainda não cheguei à perfeição. Tu sabes bem porquê, afinal,
também finges. Finges que ficas, quando já partes. Finges que entras quando já
cá não estás. Na realidade, fingimos todos, em algum momento da nossa vida,
aquele em que garantimos que já esquecemos, que juramos a ‘pés-juntos’ que já
não dói. Mas dói. Dói sempre esta dissonância do tempo individual, quando para
nós ainda é cedo e para os outros, talvez, já seja tarde demais.
Digo
que não sinto, não penses que minto, apenas, finjo. Quem sabe um dia destes
esse sentir depois de se esconder durante tanto tempo nas profundezas do meu
ser, esqueça-se definitivamente do acontecimento que o causou, esqueça-se
definitivamente de ti.
Porque
aos pouco vamo-nos habituando a acumular ausências, a esquecer lembranças,
derrotas que assimilamos até já não sentirmos a sua amargura a sombrear-nos os
dias e a assombrar-nos as noites.”
Até
lá, não vamos mentir, vamos simplesmente continuar a fingir, a fingir mal dizem
uns, a fingir bem, porque os outros nem notam.
Até lá continuaremos a dizer que é um sorriso
e não uma lágrima, aquela gota cristalina que nos espreita sorrateira por
detrás de uns óculos escuros que nos esconde o olhar. Esse olhar que vai
fingindo, uns dias bem, outros dias mal…
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