Se
tivesse que escolher um livro, seria difícil de eleger qual. Seria mesmo
impossível selecionar apenas um, quando muitos já me acompanharam ao longo da
vida, na pasta da escola, na lancheira do almoço, na viagem do autocarro,
debaixo do braço, na relva de uma tarde, na duna de uma manhã, em todas as
primaveras que floriam nas frases lidas, em todos os invernos cujos ventos
ansiosos viravam rápidos as folhas na antevisão do final. Se tivesse que
escolher um livro, talvez escolhesse aquele que me ofereceste e que nunca
abri, com receio de ler nele, antecipadamente, todas as palavras que o teu
olhar já distante me revelava e que eu fingia não entender. Ou aquele que ainda
acaricio a lombada com o olhar, porque continua a adormecer na minha
mesa-de-cabeceira, mesmo depois de já o ter lido inúmeras vezes. Ou ainda aquele
outro, que te lia todas as noites, quando
te contava histórias para adormeceres e sonhares com um mundo perfeito, cheio
de grandes heróis, fortes e imortais.
Se
tivesse que escolher um livro, escolheria certamente este que guardo escondido na alma, o meu
diário, o livro da minha vida. Não considerem vaidade esta escolha, que de
tantos livros preferira este, especialmente este. Bem sei que não será o mais
belo, nem sequer terá conteúdo para se tornar num best seller, talvez lhe falte a história de um grande romance,
talvez lhe falte a concretização de um sonho. Não terá grande argumento, mas
para ser o melhor livro que já conheci, falta-lhe, sobretudo, um happy
end.
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