Quando
o dia amanhece e nada nele promete uma nova luz. Ergo os olhos, porque o corpo
demora a obedecer às ordens do relógio que não para de tinir sobre a
mesa-de-cabeceira. Bem tento repetir essa ordem ao corpo, mas é fraca a voz de
comando, apenas um sussurro no pensamento que não chega a incomodar o mais
preguiçoso neurónio. Esse neurónio que pede incessantemente, um perpétuo
adiamento, com a mesma desculpa de sempre, só hoje, amanhã, prometo, vou
levantar-me na hora certa. Amanhã vou encarar a madrugada, atravessar nesse mar
de gente, arregaçar as mangas e pegar nas pilhas de documentos para ler e
arquivar. Afinal, são só papeis, nada de urgente, não vou salvar vidas, não vou
conquistar o mundo nem lutar pela ecologia devido a algum derramamento de
petróleo no mar.
Hoje
não estou preguiçosa diz-me a inconsciente consciência, não penses isso de mim,
estou apenas doente, dói-me a alma, enquanto que o anda coração descompassado e
as células dormentes…
Alheia
à minha suplica uma centelha de luz invade-me o quarto, como se o sol, qual pai
tirano, me obrigasse a encarar o que teimo não querer ver.
Até
o vento me bate na janela com uma pressa avassaladora, enquanto que o despertador na estação de começa a
transmitir uma música frenética num convite quase irrecusável para entrar no
ritmo. Um pé começa a agitar-se, depois outro, sobe pela coluna, estende-se até
aos braços, desenha-se sorridente no rosto, esvoaça nos cabelos “I feel good”,
lá vou repetindo o refrão I feel good that i woud now, so good, so good…
Não
me sinto lá muito “good”, geme o espirito num queixume que já não ouço, já sei
que se sente doente, que lhe apenas doente, dói-me a alma, que o anda coração
descompassado e as células dormentes…
Mas
que importa tudo isso se a manhã já espreita, como uma menina alegre, desejosa
de fazer travessuras. Por fim salto da cama e sinto a vitória de mais um dia conquistado à noite.
Quanto a amanhã, amanhã veremos, se a preguiça
não me vem novamente visitar…
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