Nunca
estive no deserto, nem sequer naqueles dias desertos de acontecimentos porque surge,
sempre algum oásis que me afasta dessa sensação e vem dar-me alguma frescura e
sombra ao passar das horas.
Mas
a impressão que tenho quando penso num deserto é de vazio. Esse vazio que
encontro em alguns olhares, aqueles que me olham sem me ver, que se fixam nos
meus olhos sem os refletirem, há neles uma imensa escuridão que nenhum sol
consegue iluminar.
Bem
sei que de vez em quando todos atravessamos desertos interiores. Travessias que
nos são dolorosas, que tornam penosos os passos, cansados de um caminho sempre
igual e sem o vislumbramento da meta. Cresce-nos dentro do peito uma sede que nem a mais cristalina água
consegue saciar, porque é sede de sensações, de serenidade, de harmonia, de
amor…
Mas
aquele rosto distingue-se dos outros, pelo deserto da expressão, pela secura da
voz, pelos passos perdidos, pelas mãos vazias, pela aridez do coração, prende a
minha atenção, e no silêncio que me oferece ouço claramente a voz da sua alma
cansada de desertos que me revela histórias de uma longa jornada, “já atravessei desertos, muitos desertos,
desertos de amor, da falta de alguém, da falta de saúde, de dinheiro, de
alento, de abraços, a cada passo ambiciono que seja o último, mas há sempre
outro a seguir, como houvesse uma força que me empurra a seguir em frente em
busca do final deste meu deserto”.
Nenhum
deserto nos derrota, quando vivemos na antecipação de um milagre, essa chuva
ocasional que nos lava o pó da caminhada e nos inunda de esperança. Uma
esperança que não nos chega a formar um oásis no peito mas que o deixa
enunciado num sopro do olhar, afinal, sabemos que nem os desertos são infinitos e, não devemos
permitir que a vida nos escoe por entre os dedos.
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