Não
tinha dom no nome mas na alma, sempre correto, cavalheiro, delicado no olhar,
terno na voz. Nunca lhe ouvi um impropério mais agreste, nunca lhe conheci um
tom mais azedo, nem um decibel mais alto do que o habitual. Sorria-lhe
constantemente o rosto de faces alvas, como se o sol não o bafejasse com o seu
doirado. Trajava com recato, “já não tinha idade para exuberâncias”, caminhava
discreto como se não quisesse ser interpelado, e no entanto quando o
cumprimentavam retribuía com um gesto de elevada gentileza e quase deferência.
Dizem que vem de finas linhagens, que nasceu em berço de oiro, mas contínua
discreto, sem fazer alarde de riquezas ou queixumes de pobreza.
Quando
se cruza com uma briga, afasta-se com o sorriso condescendente, “que linguagem,
que palavreado”, murmura a meio tom de voz. Provocam-no, espicaçam-lhe a
sensibilidade, mas continua a sorrir, não porque não saiba responder, mas por
não encontrar sentido na resposta.
Para
quê atirar farpas de oralidade, ondas encadeadas de termos vãos, pedras de
substantivos desadequados, com o intuito de magoar, ou com desejo de ferir,
“não sabem eles que a fúria é como o álcool, aquece no momento mas depois
deixa-nos uma enorme ressaca no peito? Com a desvantagem que a ressaca advinda
do álcool passa em poucas horas, no
entanto, as ofensas podem ficar como uma sombra magoando-nos por toda a vida”.
Não
tinha dom no nome, nem precisava, porque possuía nobreza no carácter, aristocracia
no civismo, fidalguia de cidadão e
dignidade humana.
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